CRITICANDO: Abaixo de Zero – O nome já poderia ser a nota

Sofrido é o mínimo para se dizer do filme top 1 da Netflix no momento.

No meio da noite, uma van contendo prisioneiros é assaltada. O motorista (Javier Gutiérrez) precisará se defender dos detentos e dos que o ameaçam do lado de fora se quiser sair dessa vivo.

O streaming tem aberto as portas para vivenciarmos mais de perto o cinema que, comumente, não chega ao Brasil. Apesar de estar no top 10 do Brasil e a crítica em geral estar amando o filme, ele está sendo considerado pelos assinantes da Netflix como O PIOR CONTEÚDO já postado na locadora vermelha, eu não consigo concordar mais com essa afirmação.

O filme é um suspense misturado com thriller, nos mostrando um grupo de prisioneiros quase inofensivos, com exceção de um assassino perigoso. Isso em tese daria uma sensação de claustrofobia mas na realidade o filme é uma bagunça. Sem se decidir entre um filme de suspense e um filme de terror ele dá boas pistas de que vai enveredar por um caminho sombrio mas acaba sendo totalmente esquecível.

Querendo não se entregar o tempo todo para parecer algo a mais que não é, o filme acaba indo totalmente para um lado de filmes anos 70/80: Uma pessoa matando as outras quando perde alguém. Não darei spoiler, porém o “vilão” do filme é literalmente qualquer personagem de filme de ação genérico tentando justificar sua maldade através de atos cruéis. E eles COLOCAM ISSO NO FILME. Sim, em pleno 2021 estamos vendo produções que não são voltadas para serem ridículas (como John Wick que claramente tem uma glamourização de armas porém é um universo fantástico bizarro sobre humano) tentando fazer você simpatizar com um assassino por uma equivalência esdrúxula.

Fora o desenvolvimento do roteiro dos outros personagens: Sempre tudo te leva a crer que possa existir algo mais… Nos primeiros 25 minutos, pois a partir disso o filme te fala exatamente o único personagem que importa e ao longo do filme as histórias que são contadas vão sendo descartadas ao acaso e as vezes lembrando o filme “Premonição”.

As atuações são mistas: Enquanto temos um ótimo trabalho dos ator Luis Callejo que faz o presidiário falastrão Ramis os outros atores não parecem estar lá a não ser para pagar as contas. As novelas bíblicas da Record meus perdões pelas críticas tecidas aos egípcios com sotaque carioca.

O filme é genérico e fácil de digerir porém é raso como um pires, por isso as notas tão conflitantes entre críticos e audiência, pode se sentir a vontade para ver, minhas opiniões são só minhas, mas acho que tem algo melhor para se fazer em uma hora e meia: Eu aconselho fazer um bolo de chocolate.

Dirigido por Lluis Quílez (Out Of The Dark) e com o elenco contando com Javier Guitierrez (A Casa), Karra Elejalde (While at War), Florin Opritescu (Vikings) entre outros o filme estrou no dia 29 de Janeiro de 2021 e está disponível na Netflix.

NOTA: 1.5/5

CRITICANDO: Fate A Saga Winx – Melhor do que a encomenda

Apesar dos clichês adolescentes vistos em Sabrina e Riverdale a série entrega mais do que o prometido apesar dos efeitos dolorosos.

Fate: A Saga Winx é uma série live-action baseada na popular série animada Clube das Winx. A série gira em torno de seis fadas populares que devem aprender a controlar seus poderes mágicos freqüentando uma escola em um mundo fantástico. Alfea é uma escola situada no Outromundo que tem por objetivo formar as fadas e instruí-las na arte da magia que já existe há milhares de anos. Apesar disso, nenhuma fada que esteve em Alfea se parece com Bloom (Abigail Cowen), que foi criada no mundo humano. Bloom é uma fada impulsiva, gentil e perigosa para aqueles ao seu redor. Por dentro, Bloom possui um poder com a capacidade de acabar ou salvar os mundos que fazem parte dela. Para se sobressair, Bloom precisa manter o controle de suas emoções. Sendo apenas um adolescente, as coisas podem ficar complicadas. Jovens fadas estarão à beira de emoções, amor, rivalidades e inimigos que ameaçam suas vidas.”

Os seriados adolescentes de fantasia costumam não se diferir muito uns dos outros, afinal de contas as fórmulas e clichês existem por um motivo e o motivo é que funcionam. Winx não tem um primor de roteiro recorrendo a tudo que já vimos: Mistério do protagonista, uma antagonista perfeita de aparência, um grupo de jovens desajustadas que se unem sem saber direito o que quer e um rapaz bonito sendo disputado.

Ao contrário do desenho temos um cenário bem próximo ao da falecida (e péssima de final) O Mundo Sombrio de Sabrina em misturar o mundo fantástico bem aproximado ao nosso porém oculto por um véu e os problemas começam aí.

Bloom não sabia que era uma fada até pouco tempo e todos parecem esconder o tempo inteiro quem ela verdadeiramente é. A maneira que ela tenta descobrir mais sobre ela, mais ela descobre sobre Alfea e a escola esconde muitas coisa, inclusive nesse sentido se parece muito com Harry Potter a plot da nossa história.

Winx claramente é uma série de baixo orçamento, que usa filtros estilo Zack Snyder para esconder algumas falhas brutas em seus efeitos especiais. Esse inclusive é um ponto chave a ser melhorado nas próximas temporadas para uma total imersão, pois a cena chave da grande luta é bem desesperadora. Nível Power Rangers mesmo de produção.

Os personagens são meio genéricos assim como seus diálogos, mas conseguem envolver alguma simpatia após um pouco de tentativa, vale a pena se esforçar. A trama da série se fecha com um grande algo a mais para sua segunda temporada e pode ser uma “confort serie” para quem ficou orfão desse tipo de produção estilo CW.

A primeira temporada de Winx tem 6 episódios todos disponíveis na Netflix desde o dia 22 de janeiro de 2021. Dirigido por Bryan Young (The Vampire Diaries) e Iginio Straffi (O Clube das Winx). O elenco conta com Abigail Cowen (O Mundo Sombrio de Sabrina) entre outros.

NOTA: 3.5/5

CRITICANDO: Lupin – Uma gostosa surpresa

Netflix acerta a dose em uma produção não americana e trás uma série divertida a tona.

Baseada nos romances policiais de Maurice Leblanc, Lupin acompanha Assane Diop (Omar Sy), um homem que, 25 anos atrás, viu sua vida virar de cabeça para baixo com a morte de seu pai, então acusado injustamente de um crime. Agora, ele está em busca de vingança e, para isso, se inspira em Arsène Lupin, o famoso “ladrão de casaca” da literatura francesa. Conhecido como “Robin Hood da Belle Époque”, Lupin se tornou um gênio do crime na Paris do início do século 20 – e Diop vai seguir seus passos nos dias de hoje.

Séries sobre roubos são famosas desde que quando a TV é TV e ter um protagonista com charme sempre é o chamariz, citando minhas duas séries preferidas nos temos sempre algo assim: Protagonista extremamente inteligente e fora da curva, socialmente não aceito porém sempre a salvação da polícia, como em Sherlock da BBC estrelado por Benedict Cumberbatch (RÁ ESCREVI CERTO SEM OLHAR NO GOOGLE) ou um bandido sensual e lindo de morrer, com lábia, charme e todos os conhecimentos de malandragem que engana a polícia ou é pego e os ajuda, como no caso de The White Collar protagonizado por Matt Bomer. Lupin é o segundo caso com uma pitada a mais.

Como dito na sinopse Assane teve seu pai acusado de um roubo e desde então se tornou aficionado pelo personagem Lupin. Dentro da trama vemos as aplicações de seus métodos e existe um esforço narrativo para fazê-lo parecer mais inteligente do que realmente é ou mais impotente do que é também. Isso no começo acaba se tornando uma falha pois nunca se sabe o potencial real do personagem.

Existe na série uma mistura de tentar se levar a sério com um tom ficcional que no começo é incomodo mas aos poucos vai desaparecendo, fazendo Lupin se tornar uma série boa para se divertir. As reviravoltas da série parecem até mirabolantes mas no final das contas são bem simples e aí que existe um charme na série francesa: Os clichês.

Acredite ou não essas coisas que todos conhecemos e que vemos em muitas outras séries que podem cansar e que geralmente é reclamação de quem faz resenhas e análises aqui serve para pautar que a série não pretende ser uma coisa de outro mundo e sim algo completamente divertido para se passar o tempo. Num mundo onde toneladas de conteúdo são feitos mensalmente qual o sentido de ver Lupin? Justamente a diversão.

Tudo vem mastigado, nada fica oculto por muito tempo, as falas são ágeis, os personagens que não são o protagonista tem pouco espaço na tela propositalmente para nos apegarmos apenas a Assane e apesar de algumas coisas, como a investigação atrás dele serem bobas, não cansa.

O gancho para a segunda parte é interessante para vermos até onde a série evolui, apesar de não parecer que vai se arrastar por muitas temporadas.

Lupin estreou dia 08 de Janeiro de 2021 e tem os 5 primeiros episódios disponíveis na Netflix. O elenco conta com Omar Sy (X Men Dias de Um Futuro Esquecido), Ludivine Sagnier (The Young Pope), Clotilde Hesme (O Poder de Diane) entre outros.

NOTA: 3.5/5

CRITICANDO: Wandavision – Estranho começo

Dando o ponta pé inicial no universo expandido da Marvel a série apresenta um recomeço instigante apesar de monótono.

Após os eventos de “Vingadores: Endgame” (2019), Wanda Maximoff/Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany) se esforçam para levar uma vida normal no subúrbio e esconder seus poderes. Mas a dupla de super-heróis logo começa a suspeitar que nem tudo está tão certo assim. Eles se encontram, na verdade, dentro de uma constante sitcom, que vai desde a década de 50 até os dias de hoje. Conforme o tempo passa, Wanda e Visão perdem o controle da situação, sem saber mais o que é real e o que é ficção. Eles ficam presos em um eterno vai e vem: da Era de Ouro da TV nos EUA, com imagens em preto e branco, ao presente – e vice-versa.1“.

Finalmente estreou a primeira série da Disney+ e em seus dois episódios lançados Wandavision ainda não disse a que veio, apesar de já chamar a atenção.

Pra quem busca ação e aventura esqueça a série por hora, não vai achar nada disso em nenhum dos episódios. Caso queira um comparativo é mais parecido com um episódio sem resolução de “Além da Imaginação” do que algo da própria Marvel.

A estética e roteiro de sitcom me pegaram no começo, porém vai cansando com o tempo. Se tem um acerto total é nas deixas do texto que te fazem lembrar que a série é maior do que realmente se apresenta.

A falta de naturalidade nos textos para simular programas dos anos 60/70 é compensada felizmente pelos ótimos atores Elizabeth Olsen e Paul Betanny que realmente estão muito bem na posição de estranheza e aqui tem muito mais química que em todos os filmes que estiveram juntos anteriormente.

Os episódios são curtos o que ajuda na sensação de que você literalmente não viu nada acontecer durante seus 30 minutos, porém existe algo na série. Um charme nesse mistério oculto que te faz querer saber mais sobre ela.

Se essa realidade paralela estiver 100% criada por Wanda, podemos ter alguns problemas em breve no universo Marvel, pois ela realmente aparenta estar no controle de todas as situações e sendo assim caminhando para se tornar o “milagre” que deve trazer os mutantes para esse universo.

Como citei antes a série tem muito potencial porém ainda se mostrou muito pouco como o grande prelúdio de Multiverso Da Loucura (ou Doutor Estranho 2 como preferirem) que foi anunciado.

Wandavision estreou no dia 15 de Janeiro de 2021 e já conta com dois episódios no Disney+. Dirigida por Jac Schaeffer (Viuva Negra) o elenco conta com Elizabeth Olsen (Terra Selvagem), Paul Betanny (O Código da Vinci) e Kathryn Hahn (Mrs Fletcher) no elenco principal.

NOTA: 3.5/5

CRITICANDO: Hamilton – Não jogue fora sua chance

Uma joia antes apenas americana agora está no mundo inteiro e encanta até quem não gosta de musicais.

Hamilton é um musical que conta a história da América por vozes americanas. Por meio da história de um dos principais fundadores americanos e primeiro secretário do Tesouro, Alexander Hamilton, a trilha sonora que mistura hip-hop, jazz, R&B e Broadway revoluciona o teatro no The Richard Rodgers Theatre, na Broadway, em junho de 2016. “

Nós brasileiros não somos muito familiarizados com a história da independência de outros países (a gente já estuda MUITO mais história internacional do que qualquer outro país no currículo escolar) e como ter interesse em algo “distante” da nossa realidade? Simples: Uma abordagem moderna. Imagine seu professor dar aulas de história do Brasil fazendo rimas e freestyle? É exatamente o que Hamilton faz para te trazer para sua realidade.

A peça é longa, tem duas horas e quarenta de duração, foi gravada em 2016 e não tem falas, apenas músicas. Pra quem não gosta de musical eu acabei de descrever tortura porém a magia de Lin-Manuel Miranda entra em ação.

Hamilton encanta e deixa sua marca bem forte já nas suas primeiras três músicas de abertura. Se o musical não te pegar nesse começo pode desligar sua TV, você não vai gostar do resto, mas pelo menos a curiosidade do que está por vir é gerada.

Todos os personagens principais tem apresentações impecáveis, rapidamente você capta a essência de cada um, se afeiçoa e entra em um turbilhão de emoções. Tudo é pensado para que o tempo inteiro você tenha aprofundamento nas histórias paralelas a do protagonista Hamilton, vê como os amigos o idolatram por ser combativo, vê como seus inimigos o enxergam como egoísta e tentam diminuir seus atos, vê como sua família enxerga sua distância e também como seus superiores o veem como um diamante bruto.

As atuações são simplesmente impecáveis. Não existe um ator sem carisma, sem expressão, sem presença o que é realmente complicado seja em um filme ou peça. Todos aqui ganham um momento de brilho e uma marca própria, desde como chamam Alexander Hamilton, seja como se dirigem a Aaron Burr (SIR) é como se fossem vinhetas que nunca te deixam esquecer as motivações originais. Os personagens tem assinaturas próprias das músicas fazendo com que o musical não soe desrespeitoso, os personagens brancos não cantam como os negros e por pura decisão de roteiro, para que haja respeito também a história do rap americano (e sim rap de pessoas brancas e negras tem MUITA diferença no flow).

Lin-Manuel Miranda, que interpreta Alexander Hamilton, vai se sagrando como um dos maiores artistas de sua época, não é exagero que a Disney o tenha colocado embaixo da asa para produzir as músicas de Moana e os vindouros Pequena Sereia e Encanto. Com apenas 40 anos já teve 2 musicais na Broadway e ganhou um Pulitzer (o Oscar do jornalismo), 2 Grammys, um Emmy e três Tonys isso falando apenas dos meus importantes. Guardem bem esse nome, vão ouvir falar muito nesse rapaz.

O musical ganhou várias versões fora dos EUA, um cd com algumas músicas remixadas em versões pop com participações de SIA, Kelly Clarkson, Alicia Keys, John Legend, Wiz Khalifa entre outros mais de 50 prêmios e agora concorre ao Globo de Ouro 2021 de Melhor Comédia/Musical, foi apresentado dentro da Casa Branca na despedida do ex presidente Obama e agora se tornou um fenômeno mundial como uma peça com lucro acima de 1 bilhão de dólares.

Hamilton: An American Musical está disponível no DisneyPlus desde o dia 03 de Junho de 2020. O elenco estrelado conta com Lin-Manuel Miranda (His Dark Materials), Leslie Odom Jr (One Night In Miami), Philipa Soo (Moana), Anthony Ramos (Nasce Uma Estrela), Daveed Diggs (Expresso do Amanhã) entre outros.

NOTA 5/5

CRITICANDO: Mulher Maravilha 84 – Cuidado com o que deseja

A menos que você deseje Gal Gadot e Patty Jenkins.

“Como arqueóloga, a Diana que trabalha no museu Smithsonian, é uma Mulher-Maravilha que tem super poderes extraordinários, podendo ser a heroína mais forte do mundo. Em 1984, a Mulher-Maravilha está em um desesperador perigo mortal na face de uma enorme conspiração do empresário Max, que canta alto para satisfazer os desejos das pessoas, e uma inimiga misteriosa, a Mulher-Leopardo (Kristen Wiig). A Mulher Maravilha pode impedir o colapso do mundo sozinha?”

Demorou apara a sequência de Mulher Maravilha sair, mas finalmente para o alívio de quem participou do filme e para os fãs o filme pôde ver a luz do dia, inclusive várias luzes do dia uma vez que o filme se passa boa parte em cenários muito bem iluminados e coloridos.

Diana sozinha no mundo após o primeiro filme é o que vemos aqui. Uma heroína que atua nas sombras, não bem sombras, mas que é um mito entre a imprensa e as pessoas, uma vez que não se joga no mundo como na sua primeira aventura solo. A fragilidade da solidão da protagonista é o que move uma boa parte da história inclusive.

Mulher Maravilha 84 demora um pouco para atracar no coração de quem viu o primeiro filme por ser bem diferente do seu antecessor e isso nem de longe é ruim, mas pode causar estranheza. A sequência inicial é bem bacana explicando como era um pouco de Themyscira (sim tive que olhar no Google) e da Dianinha pequerrucha e como ela aprende uma lição valiosa esquecida com o tempo.

Se o primeiro filme teve seu vilão como um ponto fraquíssimo seja pelo CGI ou como foi colocado na trama aqui o jogo vira BONITO. Seguindo Aquaman no quesito fazer vilões que tenham motivações reais e não esquecíveis Patty faz um ótimo serviço com a dupla Pascal e Wiig. Nosso Mandaloriano (sim ele é a babá do Baby Yoda) está praticamente entregando uma paródia de Donald Trump no auge dos seus investimentos nos anos 80. Mulheres, charme, programa de Tv e uma vida quase como um rockstar, apesar de ser uma fachada , é sedutora. Pascal flerta entre a comédia, a canastrice e o tormento de alguém que tem pressa para realizar seus sonhos. Kristen Wiig por outro lado tem um estereótipo da nerd que vira amiga da pessoa descolada da escola, porém antes que se caia no buraco da normalidade é mostrado que sua invisibilidade social não a impede de ser uma boa pessoa, porém a falta de habilidade faz com que ela vire presa fácil (BA DUM TSS) para Maxweel Lord (Pedro Pascal).

Depois desse trio destacado vamos para a inversão de papéis: Chris Pine é a nova Mulher Maravilha. Não, ele não vestiu a armadura e o laço. Steve Trevor aqui faz o papel de Diana no primeiro filme, vendo e se maravilhando com o mundo que não conheceu. Basicamente o personagem serve em 3 pontos: Entender os poderes do vilão Maxweel Lord, ser alívio cômico e ser o ponto de virada no arco dramático. Ele entrega muito bem, assim como no primeiro filme, mas vira mais um com o brilho dos outros atores.

O desenvolvimento do roteiro como falei anteriormente é estranho, meio galhofa para quem olha desavisado, mas os mais atentos vão perceber que é quase uma homenagem ao Superman de 1978 em seu início e do meio para o final se parece mais com um filme da DC atual. Vale destacar que os diálogos são pouco expositivos e não te entregam tudo o tempo todo, o “monólogo” final de Diana vai te arrepiar assim como a atuação absurda de Pedro Pascal. Se em Mulher Maravilha o terceiro ato foi a pior coisa do filme, nessa sequência sua força total é colocada nele. Gal Gadot NOTALVELMENTE melhorou como atriz, consegue entregar muito mais que uma modelo que fala frases para uma câmera.

Os efeitos que eram a grande preocupação podem ser complicados, como falei o filme flerta com a breguice dos anos 80 a todo tempo e pode incomodar em vários pontos, porém a Cheetah ou Mulher Leopardo que era o grande ponto de dúvida está MUITO bacana, com textura e passa longe do susto que foi CAT´S.

O fan service aqui tem 3 pontos gigantes que não tocarei para não dar spoilers mas servem para transformar a experiência de um jeito maravilhoso.

A mensagem do filme sobre esperança, amor e verdade nunca foram tão necessárias como em 2020. Quase profética Patty Jenkins e Gal Gadot surgem como um abraço que precisávamos para um ano com tantas perdas por causa da ganância e ignorância humana. Caso tome cuidado, mantenha os cuidados não tenha medo de ir ver pois não irá se decepcionar.

Dirigido por Patty Jenkins (Mulher Maravilha) e estrelado por Gal Gadot (Liga da Justiça), Chris Pine (Star Trek), Pedro Pascal (The Mandalorian), Kristen Wiig (Perdido em Marte) entre outros o filme estreia no dia 17 de Dezembro nos cinemas do Brasil e dia 25 no serviço HBO MAX de streaming.

NOTA: 4/5

Novo longa de terror da Netflix está sendo considerado um dos melhores do gênero neste ano

“O que Ficou para Trás” (His Home), novo longa de terror sobrenatural da Netflix, está sendo aclamado pela crítica e conquistou 100% de aprovação no Rotten Tomatoes (com base em 50 reviews).

A obra que é estrelada por Wunmi Mosaku e Sope Dirisu, conta a história de um jovem casal que consegue escapar da devastação da guerra do Sudão. Depois de completarem a conturbada jornada para o Reino Unido, eles ficam detidos em um centro de refugiados antes de se mudarem para uma casa própria, uma espécie de sobrado rodeado de vizinhos nada amigáveis. Para piorar, eles logo percebem que algo sinistro se esconde nas paredes do novo lar, transformando o início de um sonho em um pesadelo mortal.

Confira abaixo alguns trechos das principais críticas:

“Esse filme é assustador, cheio de sustos e uma atmosfera realmente sinistra.” (Vanity Fair)

“O que Ficou para Trás” é lindamente construído e seus sustos são monstruosamente eficazes, mas suas imagens aterrorizantes do mundo real permanecem sem solução, seus espectros não vencidos. O filme deixa feridas que não cicatrizam.” (Vulture)

“O nível de intensidade nas cenas tensas é impressionante. É tão assustador que, em determinado momento, eu estava assistindo o filme através dos meus dedos.” (RogerEbert)

“O que Ficou para Trás” é fascinante, angustiante e inteligente, conceitualizado e dirigido com habilidade astuta. É facilmente um dos melhores filmes de terror do ano.” (Decider)

“Esse filme é uma história de fantasmas urgente e arrepiante sobre o que significa começar de novo em uma casa que pode não querer que você more nela.” (IndieWire)

O longa já está disponível na Netflix.

CRITICANDO: TENET – Promessa ambiciosa, produto nem tanto

O filme promete muito mais do que entrega mas não deixa de ser uma boa diversão no meio desse caos.

Um agente da CIA conhecido como O Protagonista (John David Washington) é recrutado por uma organização misteriosa, chamada Tenet, para participar de uma missão de escala global. Eles precisam impedir que Andrei Sator (Kenneth Branagh), um renegado oligarca russo com meios de se comunicar com o futuro, inicie a Terceira Guerra Mundial. A organização está em posse de uma arma de fogo que consegue fazer o tempo correr ao contrário, acreditando que o objeto veio do futuro. Com essa habilidade em mãos, O Protagonista precisará usá-la como forma de se opor à ameaça que está por vir, impedindo que os planos de Sator se concretizem.”

Quando falamos de Nolan os conceitos sempre vêem a mente: Batman realista (odeio esse), inserção (o sonho dentro do sonho de A Origem) e buraco de minhoca e distorção do tempo (Interstelar). Em TENET somos apresentados ao conceito da reversão temporal. Não é uma viagem no tempo, é uma volta no tempo, algo que parece extremamente complexo porém nem tanto, literalmente tudo anda pra trás e você pra frente como o próprio nome sugere.

Nolan sempre teve em seus filmes o cuidado de tratar o espectador como alguém incapaz de deduzir coisas e esse filme é a pura exposição de conceitos, se explicando a cada 5 minutos, todo novo personagem corrige o anterior com uma adição, mas nunca sem antes contar TUDO de novo.

O Protagonista é um personagem que atua como a própria presunção de Nolan: É misterioso, parece muito agressivo e preparado para tudo e seu final é previsivel em um plot twist completamente simples.

Não me entendam mal, TENET consegue ótimas sequências de ação, prende a sua atenção NO COMEÇO. Seu final tenta, mais no visual do que no enredo em si ser mais atraente, mas a história cansa pelo excesso de recontagem de todo o processo. A cada nova adição os personagens vão ficando mais caricatos e literalmente o filme se pergunta “vamos conseguir mudar tudo?” e ele mesmo te responde “não tá de boa”.

As atuações estão de acordo com o filme e cada designação: John David é o protagonista durão, que sem dúvidas entra em sua jornada, mesmo sem saber ao certo qual ela é. Robert Pattinson é o “nerd” que te explica tudo. Elizabeth Debicki é um misto de donzela em perigo e um artifício de potencial VDM (Vai Dar Merda). Kenneth Branagh entrega o típico vilão russo do 007, ele é ruim por ganância e é simples assim.

O filme é inteiramente filmado em IMAX, trás toda uma experiência visual muito interessante e acompanhando os conceitos do Nolan vale notar que o filme te trás um desconforto real a cada briga, cada cena de ação em sua trilha sonora que toca a todo tempo ao contrário causando um estranhamento que no final das contas acaba sendo bem bacana e imersivo para o que ele propõe.

Quem for esperando um novo Interestelar vai se decepcionar certamente, quem for esperando um novo A Origem pode até curtir, apesar do filme ter bem menos ação que o citado.

TENET significa início e no momento que nos encontramos como sociedade, não é um início ruim para tirar nossa cabeça dos problemas fora do cinema.

Dirigido por Christopher Nolan (A Origem) e o elenco conta com John David Washington (Infiltrado na Klan), Robert Pattinson (The Batman), Kenneth Branagh (Dunkirk), Elizabeth Dibick (As Viúvas) entre outros o filme estreia dia 29 de Outubro de 2020.

NOTA: 3.75/5

Escrito por: Felyppe Merick

DICA DE QUARENTENA | Secreto e Proibido – Documentário mostra romance lésbico iniciado na década de 40

A chegada de Ryan Murphy na Netflix prometia bom conteúdos televisivos. O grande showrunner estadunidense foi responsável por sucessos passados como “Glee” e “Nip/Tuck”, e atualmente comanda as séries “American Horror Story”, “American Crime Story” e “Feud”. Na Netflix, Ryan já estrou The “Politician”, programa estrelado por Ben Platt, Gwyneth Patrol e Jessica Lange. Agora, Murphy estreia o documentário “Secreto e Proibido” produzido por ele e dirigido pelo novato Chris Bolan. O filme conta a história de um casal lésbico que estão juntas a mais de 70 anos. As dificuldades em ser LGBT no século passado e problemas que chegam com a velhice são o ponto central do longa.

Terry Donahue e Pat Henschel se conheceram na década de 40 e a partir daí viveram um romance escondido. Disfarçadas como primas, Pat e Terry dividiram uma vida em segredo, revelando o amor mútuo para seus colegas e familiares recentemente.

O retrato de um relacionamento afetivo entre pessoas gays na terceira idade é escasso no cinema e na televisão, principalmente ao se tratar de uma relação entre duas mulheres. “Secreto e Proibido” delineia esta história de forma cuidadosa. Não se trata em apenas duas senhoras lésbicas, mas de um matrimônio entre dois seres humanos de 90 anos. Mostrar as adversidades em ser queer durante os anos 40 (e 50, 60, 70…) não é a única preocupação de Bolan e Murphy. Problemas ocasionados pela velhice, como saúde e solidão, completam a narrativa do documentário trazendo uma bifurcação interessante na trajetória de Donahue e Henschel.

Se fala muito sobre como tribulada era a vida de um jovem gay no século passado. A revolta de Stonewall se torna cada vez mais popular ao longo dos anos e assim aprendemos muito sobre a luta de jovens mulheres transexuais e homens gays. Mas onde as lésbicas se enfiam nessa história? Um ponto que me satisfez ao assistir “Proibido e Secreto” foi a exposição de revoltas e protestos em bares lésbicos em reação às batidas policiais que chegaram a prender mais de 90 meninas em uma noite. Protestos esses que aconteceram antes mesmo das famosas revoltas em Nova Iorque. Mulheres… Sempre a frente dos homens!

Apesar de viverem na mesma casa por décadas, Terry e Pat não tinham o direito de se casar até alguns anos atrás. Por que diabos um casal de 90 anos que compartilhou a vida inteira iria querer consumar a relação com um casamento já no “final” de uma trajetória. A ideia divide opiniões entre as duas, mas é novamente um acerto do documentário que expõe o embate criando uma jornada a respeito do tema.

É fundamental que histórias como essa surjam em épocas onde o ativismo LGBT no mundo ocidental avança com o passar do tempo. É preciso normalizar o gay idoso pois essa será a realidade uma grande parte da população num futuro não muito distante. Quem resistiu à homofobia, ao genocídio queer e à epidemia da AIDS são sobreviventes que merecem nosso respeito. Precisamos conhecer essas histórias e entender que antes de nós tiveram heróis e heroínas que lutavam de cara limpa ou mascaradas.

“Secreto e Proibido” está disponível no catálogo da Netflix.

CRITICANDO: Bloodshot – Chegou atrasado na festa

Sabe quando você fica com a sensação de que alguma coisa é ruim pela falta de timming? Que parece ser de outro tempo? Bloodshot seria um ótimo filme de ação, a 20 anos atrás.

Bloodshot é um ex-soldado com poderes especiais: o de regeneração e a capacidade de se metamorfosear. Assassinado ao lado da esposa, ele é ressuscitado e aprimorado com nanotecnologia, desenvolvendo tais habilidades. Ao apagarem sua memória várias vezes, ele finalmente descobre quem realmente é e parte em um busca de vingança daqueles que mataram sua família.

Já lendo a sinopse temos um padrão muito comum de filmes de ação, a vingança. Desejo de Matar, Robocop, insira qualquer filme do Steven Seagal que se lembrar aqui… E bom, para filmes de heróis também não vai ser o que vai se lembrar assim que sair do cinema.

Vin Diesel é um nerdão que acredita muito em seus projetos e Bloodshot é um quadrinho bem obscuro e desconhecido no meio. Veio no meio de um turbilhão de coisas lançadas para capitalizar com uma época na qual QUALQUER HQ vendia pelo simples fato de ter um ser fantástico em sua capa. Dá pra ver que o nosso Toretto se esforça e o peso do filme é grande demais até pro nosso bombado favorito (MAL AÍ THE ROCK).

O filme não tem absolutamente NENHUMA surpresa na trama, uma vez que se você estava empolgado para ver e acompanhou a divulgação eu tenho uma péssima notícia para você: O marketing do filme te deu tudo. Simplesmente todas as sequencias de história e ação mais “marcantes” estão lá.

Não é completamente descartável: As simulações de realidade são ótimas, a forma que trazem para a reconstituição de mundo é uma excelente e atual ideia, Vin Diesel tenta aqui e ali dar um toque de drama, sua companheira de cena Eiza Gonzales entrega uma personagem bacana e com motivações aceitáveis. O problema vem JUSTAMENTE do resto do elenco.

Todo mundo aqui é malvadão, tipo gente ruim mesmo, gananciosa… Mas aí que mora o perigo: Atuar sendo uma pessoa ruim que era pra ter camadas, afinal de contas você precisa ser malicioso para controlar super soldados, não era pra ser uma coisa difícil para um ator gabaritado como Guy Pearce, mas o roteiro é ruim e a direção fraca. Basicamente um amontoado de pessoas atuando de maneira afetada e sim, estamos em 2020 e HACKERS AINDA DIGITAM NA VELOCIDADE DA LUZ COM 10 TELAS LIGADAS AO MESMO TEMPO. Os alívios cômicos, bom eles eram para existir mas simplesmente NENHUMA piada encaixa. E olha que tem momentos que o filme PARA TUDO para se fazer uma piada e quase espera o público rir, como em uma cena de Friends ou The Big Bang Theory.

As cenas de ação abusam do slow motion e ao contrário de um filme do Snyder (saudades) aqui elas servem mais para mascarar uma cena ruim do que para acionar peso. Temos as cenas de reconstituição e regeneração que são bacanas nas primeiras duas vezes, depois da quinta você já está de saco cheio.

E bom, filme de heróis dependem bastante dos seus efeitos né? A batalha final aqui é digna de cut scene de playstation. Com todo respeito a jogos como Detroid Become a Human The Last Of Us mas os bonecos de cera voando pelo fosso de um elevador foram bem incômodos e era uma cena que teria a mesma emoção em um lugar mais contido, uma vez que o CGI das armaduras dos vilões não eram tão ruins em cenas mais fechadas, porém como tinha que existir o exagero da última batalha perderam a mão (chamo de efeito Esquadrão Suicida).

Bloodshot pode funcionar caso não tenha mais nenhuma opção para assistir ou só queira ver coisas explodindo mas sem o dinheiro do Michael Bay, se quer ver só pelo Vin Diesel, não é seu pior filme, mas não entra na lista por um triz (Alô Último Caçador de Bruxas).

Dirigido por Dave Wilson II (Love, Death, Robots) e estrelando Vin Diesel (Saga Velozes), Eiza Gonzales (Alita: Anjo de Combate), Guy Pearce (Duas Rainhas), Toby Kebbell (Kong A Ilha da Caveira) entre outros o filme estreia dia 12 de Março de 2020.

NOTA: 2.5/5

 

CRITICANDO: A Maldição do Espelho – Eu já vi isso antes

Depois do sucesso de Parasita outros mercados tentam entrar na rota de público, mas definitivamente a Rússia ainda não está pronta.

Depois que o terrível fantasma da Rainha de Espadas ressurge, os alunos de um antigo colégio interno viram as próximas vítimas do banho de sangue. O terror começa a partir do momento em que eles recitam antigos encantamentos no banheiro do local para conquistar tudo o que desejam — mesmo que o preço seja suas almas.

O que mais se tem no gênero de terror são clichês inúmeros: Adolescentes com hormônios a flor da pele brincando com magia, mulheres amaldiçoadas por tentarem realizar desejos pessoais, lugares abandonados que aconteceram coisas nefastas (ÓIA QUE PALAVRA BONITA)… O problema é que “A Maldição do Espelho” é um amontoado dessas histórias já batidas com uma tentativa de subversão para um plot twist que não fede e nem cheira.

A primeira cena já nos apresenta os protagonistas sem enrolação de forma claríssima e direta. Chegamos então aos coadjuvantes e lá temos de novo o mais comum grupo do terror: Uma garota desajustada com traumas, uma criança medonha, um rico com problemas de falta atenção que desconta nos outros alunos, um nerd que sofre bullying mas segue com os populares, a garota bonita e sexy que faz besteira para a mãe notar que ela existe e uma garota acima do peso que deseja ser magra como a mãe pede.

Como pano de fundo, eu aposto que vocês já ouviram falar da “Loira do Banheiro” certo? Bom, pelo visto cada país tem o seu e aqui temos a Rainha de Espadas. Para chamar basta falar seu nome 3x em frente a um espelho e fazer um desejo de coração. Obviamente como é um filme de terror os desejos se realizam, porém a um custo alto e não da forma que se imaginava.

Vou admitir que existe um preconceito velado com atores não padronizados. Vou explicar: Sempre falamos do exagero latino em novelas mexicanas, venezuelanas ou argentinas e tendemos a preferir atores americanos ou europeus em alguns papéis que nem deveriam ser feito por eles. Existem as exceções mas sabemos o padrão. Filmes russos não são comuns no nosso mercado e eles se esforçam até, as atuações não são ruins ou afetadas porém claramente a barreira da língua pesa, principalmente pela cópia que eu tive acesso ser de um filme russo, dublado em inglês e legendado em português, já deixo inclusive a confirmação de que dublagem estadunidense é ruim sim, acreditem.

Eu queria de verdade que o filme fosse uma boa surpresa, mas não consegue assustar pela previsibilidade, inclusive na revelação final, com uma edição bem pobre apesar de não se prejudicar no orçamento para locações e produção. A ideia de fazer a maior parte dos sustos virem por meio de CGI também é uma escolha que tira muito o peso do medo, apostando em jump scares ocasionados (IMAGINO EU) por uma falta de verba maior para ter o monstro em tela.

O filme não vai funcionar para adolescentes se assustarem, não vai funcionar pra quem gosta de terror e nem para passar um tempo, uma vez que é bem sonolento. Espero que seja só uma tentativa fraca de um novo mercado bom surgindo, afinal agora “abrimos a porteira” para surpresas de outros países.

Dirigido por Aleksandr Domogarov e estrelado por Angelina Strechina, Tatyana Kuznetsova, Daniil Izotov entre outros o filme estreia dia 12 de Março de 2020.

NOTA: 1.5/5

 

 

Crítica | Fim de Festa – O cinema recifense retrata um Brasil excessivo através do carnaval

Essa vida de colunista de cinema nos rende momentos inesquecíveis. Na tarde desta terça-feira (03/03) vivi um deles. Entrevistei um dos meus cineastas (e roteiristas) favoritos: Hilton Lacerda. Conhecido principalmente por ter dirigido “Tatuagem”, longa lançado em 2013, Hilton é caracterizado como ícone do cinema recifense, movimento artístico de forte expressão no Brasil. Nesta entrevista conversamos sobre seu mais novo longa-metragem, “Fim de Festa”. O filme conta a história de um assassinato durante o carnaval em Recife.

Emma é francesa e casada com um brasileiro que vive com sua família na França. Ao vir para o Brasil conhecer o carnaval, é assassinada em um crime misterioso. Quem tenta desvendar o crime é o policial Breno, interpretado por Irandhir Santos, que já trabalhou diversas vezes com Hilton e agora está no ar como o vilão Álvaro de “Amor de Mãe”, novela do horário nobre da Rede Globo.

Pergunto para Hilton sobre a parceria com Santos, companheiro de trabalho desde 2006 quando filmaram “Baixo das Bestas”, e desde então dividiram o set diversas vezes. Ao ator é só elogios. A habilidade “camaleônica” do astro faz com que o diretor o considere para seus filmes: “Eu o vejo como um corpo em movimento e isso me interessa bastante. Eu não escrevo papel pensando em Irandhir, eu escrevo o papel pensando no seu corpo como o personagem”. Também tive a oportunidade de conversar com Irandhir Santos que retribuiu o enaltecimento: “Hilton me ensina a vivenciar melhor minha arte e ao mesmo tempo me ensina a compreender melhor o lindo”.

O policial Breno é um personagem esfíngico que além de resolver crimes, precisa redescobrir sua própria personalidade. Apesar da profissão militarizada, Breno foge do estereótipo da polícia perpetuado pelo cinema. Na companhia de seu filho, Breninho, o cara fuma maconha e questiona a validade de seu trabalho quando se vê prendendo jovens negros periféricos. Para Irandhir, a profissão do protagonista representa uma máscara sufocante e não o retrata de fato.

“Ele é carne de carnaval. Ele brincou muito de carnaval e agora não brinca mais.”

– Irandhir Santos sobre seu personagem Breno

Além de um elenco consagrado com Irandhir e Hermila Guedes (O Céu de Suely), “Fim de Festa” apresenta um núcleo jovem com Gustavo Patriota, Amanda Beça, Safira Moreira e Leandro Vila. A química entre todos os atores e atrizes flui e então questiono Irandhir sobre a experiência de estar em cena com a moçada. A resposta do ator revela que essa vivência traz um frescor e o motiva a retornar em seu estágio inicial: “eu tenho de ser assim, todas as vezes”.

“É um momento que não se tem amarras, é um momento que não se cria expectativa, é o momento em que você tem o direito de errar, se você quiser!”

– Irandhir Santos sobre atuar com elenco iniciante

A galera com menos experiência foi responsável por transcrever uma guerra civil entre a juventude atual. Breninho e Penha representam uma burguesia meia consciente, pregadores do amor livre, da descriminalização da maconha e que desejam um carnaval por mês. Já Angelo e Indira, negros retintos, filhos de domésticas e libertos de qualquer possível amarra, ajudam a ilustrar uma juventude que se divide em discurso e execução. Em alguns momentos conseguimos até identificar uma tiração de sarro do jovem burguês branco e Hilton confirma a intenção. A exposição de excesso e falta de privilégios foi proposital e com a genialidade do pernambucano, entendemos as diferenças mesmo quando tudo parece igual.

“Eles se acham bacana. Mas na prática não conseguem ser…”

– Hilton Lacerda sobre a juventude burguesa retratada

O trunfo de ter o carnaval como plano de fundo é poder utilizar um imagético que junta ma estética folclórica brasileira com corpos renascentistas. A liberdade da nudez e o sexo sempre foram presentes na obra de Hilton. Como o título já diz, “Fim de Festa” retrata um carnaval que já não existe mais, o que auxilia na construção de um repertório de metáforas.

“Eu estou falando de uma coisa muito maios. O carnaval está ali de imediato, mas estou falando de uma coisa maior, de um país que vivi de excessos”.

– Hilton Lacerda sobre as metáforas presentes em ‘Fim de Festa’

A ALICE

Suzy Lopes (Bacurau) também integra o elenco de “Fim de Festa”. A atriz interpreta Alice, a sogra da falecida, uma mulher cheia de excessos e que deixou o Brasil para morar em Paris. Alice é a representação perfeita da classe média brasileira e a atuação de Suzy enobrece a personagem. “Eu me fascinei por Alice pelo esforço de criar uma pessoa em outro lugar. Eu não julgo as minhas personagens, eu as vivo” é a fala de Lopes sobre as características do papel interpretado. O esforço é de transformar uma fascitóide em alguém relacionável e divertida e Suzy Lopes consegue esbanjando talento sendo bem sucedida em seu propósito.

Mais uma obra com assinatura de Hilton Lacerda encanta e se camufla na história do cinema brasileiro. O movimento recifense se destaca no portfólio nacional com suas cores, corpos e sotaques e “Fim de Festa” não ficaria fora dessa.

“Fim de Festa” estreia 05 de março nos cinemas.

Crítica | “Maria e João – O Conto das Bruxas”: Desconstruindo o conto de fadas para a Geração Y

O que se espera de uma adaptação de conto de fadas? Uma floresta linda e convidativa? Uma princesa performando feminilidade e um príncipe depilado antes mesmo de inventarem a gilete? Esquece! O cineasta Oz Perkins entrega “Maria e João – O Conto das Bruxas” de uma forma que provavelmente você não está esperando. Nessa versão, João e Maria enfrentam desafios mais obscuros do que estamos acostumados.

A ideia de traduzir um conto de Grimm como uma história de terror para uma audiência jovem não é tão revolucionária, mas aqui funciona. No século 17 e 18, esses contos eram usados para alertar crianças sobre alguns perigos, como por exemplo estupro. “Maria e João – O Conto das Bruxas” segue a tradição abordando temas sensíveis, mas conseguindo passar a mensagem para espectadores mais inocentes.

O projeto segue perfeitamente a cartilha para conquistar o jovem Tumblr, deixando os VSCO teens com material para os próximos meses. O visual, que parece ter saído de uma pasta do Pinterest, aproveita o enredo fantasioso e cria um uma estética lúdica ressaltado principalmente pela luz da fotografia que desenha um quadro harmonioso com utilização de signos millennials chegando no alinhamento estreito entre conceito e público alvo.

“Gretel & Hansel” (como o filme é chamado em países anglo-saxônicos) parece até uma versão para menores de uma obra de Robert Eggers, diretor de “A Bruxa” e “O Farol”. O discurso feminista envolvendo a temática de bruxas faz alusão ao primeiro longa-metragem dirigido por Eggers.

Não é de hoje que eu digo “prestem atenção em Sophia Lillis”. A atriz que interpreta Maria é uma das grandes apostas para a próxima geração e viu sua carreira deslanchar após sua performance eletrizante em “Sharp Objects”, série da HBO. Neste filme, Lillis compartilha a tela com – a incrível e irreconhecível – Alice Krige e o novato Samuel Leakey desenvolvem uma química que imprime uma ótima atuação.

Criando um aspecto de suspense e terror, “Maria e João – O Conto das Bruxas” é uma boa adição para a lista horror teen e pode despertar uma nova forma de adaptação de contos de fada.

“Maria e João – O Conto das Bruxas” estreia dia 20 de fevereiro nos cinemas.

CRITICANDO: Aves de Rapina: Arlequina E Sua Emancipação Fantabulosa – Simples, direto e divertido

Arlequina (Margot Robbie), Canário Negro (Jurnee Smollett), Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), Cassandra Cain e a policial Renée Montoya (Rosie Perez) formam um grupo inusitado de heroínas. Quando um perigoso criminoso começa a causar destruição em Gotham, as cinco mulheres precisam se unir para defender a cidade.

Parece que na nova fase “episódica” da DC nos cinemas existe espaço para todos: Um Aquaman super grandioso, um SHAZAM mega família, um Coringa de Oscar e um grupo de garotas badass que deixaria “As Panteras” bem chateadas por não verem o quão simples era acertar em cheio.

Não me entenda mal, Aves de Rapina está LONGE de ser um filme perfeito, porém em um momento no qual discutimos a necessidades de personagens femininas fortes ORIGINAIS, não apenas versões como uma possível 007 mulher ou um grupo de caça fantasmas, Arlequina e suas amigas (como apelidado) se diverte com suas próprias possibilidades.

Tendo a doutora (COM DOUTORADO SIM ~segundo a mesma que não é uma fonte confiável) palhaça do crime como narradora oficial somos levados a ver todo seu processo de luto pelo término com o Coringa e logo aqui já levamos um primeiro tapa social: Harley nunca foi vista como uma pessoa, apenas era um acessório de seu namorado. Inclusive a mesma cita que por diversas vezes ele levou crédito sobre crimes que ela cometeu.

Margot não perdeu o jeito. Todos os trejeitos de Esquadrão Suicida aqui estão melhorados e com seu tempo em tela fica fácil dela brilhar mais ainda. O filme, para ajudar, ainda toma a liberdade de usar narrações, animações, musicais e muita coisa das HQ´s como tiros coloridos e mudanças súbitas de figurino. Conseguindo levar uma dramaticidade que apenas arranhamos em sua primeira aparição, fica aqui o gosto mais uma vez de que aquele filme poderia ter sido MUITO melhor (e não, NÃO FOI o Coringa Leto que o estragou, mas falaremos sobre ele).

Para compor o time das mocinhas temos a Canário Negro, que busca apenas sobreviver após um trauma de sua vida, sem se importar para quem trabalha, porém com um coração grande, ela acaba sendo uma das personagens que mais tem um passado pesado, mostrando como as mulheres são caladas e vêem outras serem humilhadas sem fazer nada por se sentirem impotentes. Ironias a parte, é a melhor figura de linguagem uma vez que o poder da personagem é a voz. A detetive Renée Montoya passa por uma situação, infelizmente normal, para muitas mulheres: Trabalhar muito e certo e um homem levar sua promoção e um outro ponto interessante é que ela é a a mais velha do grupo, mostrando também que nunca é tarde para se sair de uma posição incômoda. Temos Cassandra Cain, uma órfã que bate carteiras e acaba por acaso no meio dos planos do vilão. Imigrante, pobre e adotada por uma família problemática ela é um excelente ponto para ver que amor no lar (por mais que seja com uma “EX” criminosa) faz muita diferença. Nesse cenário a única que destoa é a Caçadora (piada recorrente inclusive o seu nome no filme) que é a personagem que basicamente é movida a vingança.

No filme temos apenas dois vilões: Zsasz, o famoso capanga que é até um bom personagem, mas fica bastante na sombra do grande vilão, para mim TOP 3 FÁCIL desse novo universo DC: Máscara Negra. Ewan McGregor está solto e suave no papel, fazendo suas afetações serem composição e não caricatura a um personagem que mostra o homem perigoso: Vaidoso, egocêntrico, rico, desrespeitoso e que acha que mulheres são propriedades.

Tudo isso funciona lindamente, só não funciona perfeitamente pois a montagem do filme fez ele ser meio sofrido. É perceptível as cenas das refilmagens e as que não são, fazendo alternar entre algumas coreografias de lutas incríveis com algumas meia boca. Umas barrigas aqui e ali para encher linguiça também ficam evidentes no começo do segundo ato, talvez um medo do filme ficar curto demais.

Aspectos técnicos são muito impressionantes uma vez que o orçamento do filme foi bem curto (75 milhões sem contar as refilmagens) porém a roteirista do filme se prova uma excelente nova aposta uma vez que “Bumblebee” e Aves de Rapina são filmes de “baixo” orçamento (se comparados as franquias principais das quais fazem parte) que funcionaram muito bem com suas limitações apostando alto numa história simples e carisma.

Uma coisa “ruim”: É e não é uma continuação! O Coringa de Jared Leto é completamente ignorado, ou quase completamente. Nenhuma representação dele é parecida, tirando uma cena reaproveitada de Esquadrão e uma na qual ele aparece de costas, porém a própria Arlequina fala sobre os eventos do seu filme de origem numa boa… Fica aí a pergunta de como vão amarrar isso aí.

Dirigido por Cathy Yan (Dead Pigs), Aves de Rapina: Arlequina e a Sua Fantabulosa Emancipação conta com Margot Robie (Era Uma Vez…Em Hollywood), Jurnee Smollett-Bell (True Blood), Rosie Perez (Rise), Mary Elizabeth Winstead (Projeto Gemini), Ella Jay Basco (Teachers), Ewan McGregor (Doutor Sono) e Chris Messina (Sharp Objetics) o filme estreia no Brasil no dia 06 de fevereiro de 2020.

NOTA: 3.5/5

 

CRÍTICA | Cicatrizes – Drama sérvio expõe drama de famílias com bebês sequestrados

Na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que aconteceu em outubro de 2019, muitos cineastas estrangeiros tiveram a oportunidade de expor filmes em solos brasileiros. Muitos deles não chegam a voltar para uma estreia comercial, mas não é o caso de “Cicatrizes”, longa-metragem dirigido por Miroslav Terzić sobre uma família sérvia que acredita que um dos seus filhos foi sequestrado logo ao nascer.

Em 2015, a Associação dos Pais dos Bebês Desaparecidos da Sérvia estimou cerca de 40 mil crianças roubadas de suas famílias após o parto. O tráfico de recém-nascidos é um problema ainda existente na Sérvia, e o país conta com diversas entidades que lutam por leis melhores, se empenham nas buscas de crianças e acolhem famílias que foram vítimas dessa atrocidade. O crime envolve médicos, enfermeiras e até centros sociais. Logo no nascimento do bebê, os funcionários do hospital avisam aos pais que o filho já nasceu morto e então somem com o recém-nascido; em alguns casos, a enfermeira mostra um suposto bebê falecido – que fora mantido em uma câmara frigorifica – com a intenção de enganar pais e mães.

O enredo de “Cicatrizes” até pode parecer história de telenovela, mas as escolhas de Terzic enfeitam e transformam o filme em uma obra mais sofisticada. Com um ritmo desacelerado, a consumação do filme não se torna praticável para um público ordinário, porém se torna uma agradável surpresa para o espectador com olhar mais treinado. O toque sutil da montagem combinada com decisões felizes de enquadramento eleva a qualidade artística satisfazendo cinéfilos com um repertório eminente.

Muito mais do que um filme sobre sequestro, “Cicatrizes” é sobre seguir em frente. O roubo de um recém-nascido distribui traumas que desencadeia e atinge todos os envolvidos presentes em um curto raio de distância. A mãe inconformada, a filha que se sente rejeitada e o pai reprimido se prendem em uma rede de tortura até que alguém consegue dar um passo maior em busca da verdade. A partir daí, todos esperam e se empenham em uma dramática aventura em busca do filho perdido.

A atriz Snezana Bogdanovic domina o roteiro e entrega uma interpretação carregada de ressentimento em suas poucas falas. Com uma linguagem corporal verborrágica é possível sentir a dor da personagem Ana durante a procura de seu filho. O elenco coadjuvante colabora no alto nível de atuação e auxiliam o trabalho Bogdanovic, evidentemente protagonista da história.

O cinema não é feito de boas histórias. É feito de bons contadores de história. Miroslav Terzić soube elevar o patamar de sua obra com um enredo tocante em um filme com estética e ritmo requintado. Tudo faz sentido em suas decisões e o resultado é primoroso. Não só me encanto com a arte, mas acabo descobrindo e aprendendo mais sobre algo tão relevante na Sérvia. É o cinema cumprindo sua missão da forma mais genuína.

“Cicatrizes estreia dia 16 de fevereiro nos cinemas.