CRITICANDO: Abaixo de Zero – O nome já poderia ser a nota

Sofrido é o mínimo para se dizer do filme top 1 da Netflix no momento.

No meio da noite, uma van contendo prisioneiros é assaltada. O motorista (Javier Gutiérrez) precisará se defender dos detentos e dos que o ameaçam do lado de fora se quiser sair dessa vivo.

O streaming tem aberto as portas para vivenciarmos mais de perto o cinema que, comumente, não chega ao Brasil. Apesar de estar no top 10 do Brasil e a crítica em geral estar amando o filme, ele está sendo considerado pelos assinantes da Netflix como O PIOR CONTEÚDO já postado na locadora vermelha, eu não consigo concordar mais com essa afirmação.

O filme é um suspense misturado com thriller, nos mostrando um grupo de prisioneiros quase inofensivos, com exceção de um assassino perigoso. Isso em tese daria uma sensação de claustrofobia mas na realidade o filme é uma bagunça. Sem se decidir entre um filme de suspense e um filme de terror ele dá boas pistas de que vai enveredar por um caminho sombrio mas acaba sendo totalmente esquecível.

Querendo não se entregar o tempo todo para parecer algo a mais que não é, o filme acaba indo totalmente para um lado de filmes anos 70/80: Uma pessoa matando as outras quando perde alguém. Não darei spoiler, porém o “vilão” do filme é literalmente qualquer personagem de filme de ação genérico tentando justificar sua maldade através de atos cruéis. E eles COLOCAM ISSO NO FILME. Sim, em pleno 2021 estamos vendo produções que não são voltadas para serem ridículas (como John Wick que claramente tem uma glamourização de armas porém é um universo fantástico bizarro sobre humano) tentando fazer você simpatizar com um assassino por uma equivalência esdrúxula.

Fora o desenvolvimento do roteiro dos outros personagens: Sempre tudo te leva a crer que possa existir algo mais… Nos primeiros 25 minutos, pois a partir disso o filme te fala exatamente o único personagem que importa e ao longo do filme as histórias que são contadas vão sendo descartadas ao acaso e as vezes lembrando o filme “Premonição”.

As atuações são mistas: Enquanto temos um ótimo trabalho dos ator Luis Callejo que faz o presidiário falastrão Ramis os outros atores não parecem estar lá a não ser para pagar as contas. As novelas bíblicas da Record meus perdões pelas críticas tecidas aos egípcios com sotaque carioca.

O filme é genérico e fácil de digerir porém é raso como um pires, por isso as notas tão conflitantes entre críticos e audiência, pode se sentir a vontade para ver, minhas opiniões são só minhas, mas acho que tem algo melhor para se fazer em uma hora e meia: Eu aconselho fazer um bolo de chocolate.

Dirigido por Lluis Quílez (Out Of The Dark) e com o elenco contando com Javier Guitierrez (A Casa), Karra Elejalde (While at War), Florin Opritescu (Vikings) entre outros o filme estrou no dia 29 de Janeiro de 2021 e está disponível na Netflix.

NOTA: 1.5/5

CRITICANDO: Lupin – Uma gostosa surpresa

Netflix acerta a dose em uma produção não americana e trás uma série divertida a tona.

Baseada nos romances policiais de Maurice Leblanc, Lupin acompanha Assane Diop (Omar Sy), um homem que, 25 anos atrás, viu sua vida virar de cabeça para baixo com a morte de seu pai, então acusado injustamente de um crime. Agora, ele está em busca de vingança e, para isso, se inspira em Arsène Lupin, o famoso “ladrão de casaca” da literatura francesa. Conhecido como “Robin Hood da Belle Époque”, Lupin se tornou um gênio do crime na Paris do início do século 20 – e Diop vai seguir seus passos nos dias de hoje.

Séries sobre roubos são famosas desde que quando a TV é TV e ter um protagonista com charme sempre é o chamariz, citando minhas duas séries preferidas nos temos sempre algo assim: Protagonista extremamente inteligente e fora da curva, socialmente não aceito porém sempre a salvação da polícia, como em Sherlock da BBC estrelado por Benedict Cumberbatch (RÁ ESCREVI CERTO SEM OLHAR NO GOOGLE) ou um bandido sensual e lindo de morrer, com lábia, charme e todos os conhecimentos de malandragem que engana a polícia ou é pego e os ajuda, como no caso de The White Collar protagonizado por Matt Bomer. Lupin é o segundo caso com uma pitada a mais.

Como dito na sinopse Assane teve seu pai acusado de um roubo e desde então se tornou aficionado pelo personagem Lupin. Dentro da trama vemos as aplicações de seus métodos e existe um esforço narrativo para fazê-lo parecer mais inteligente do que realmente é ou mais impotente do que é também. Isso no começo acaba se tornando uma falha pois nunca se sabe o potencial real do personagem.

Existe na série uma mistura de tentar se levar a sério com um tom ficcional que no começo é incomodo mas aos poucos vai desaparecendo, fazendo Lupin se tornar uma série boa para se divertir. As reviravoltas da série parecem até mirabolantes mas no final das contas são bem simples e aí que existe um charme na série francesa: Os clichês.

Acredite ou não essas coisas que todos conhecemos e que vemos em muitas outras séries que podem cansar e que geralmente é reclamação de quem faz resenhas e análises aqui serve para pautar que a série não pretende ser uma coisa de outro mundo e sim algo completamente divertido para se passar o tempo. Num mundo onde toneladas de conteúdo são feitos mensalmente qual o sentido de ver Lupin? Justamente a diversão.

Tudo vem mastigado, nada fica oculto por muito tempo, as falas são ágeis, os personagens que não são o protagonista tem pouco espaço na tela propositalmente para nos apegarmos apenas a Assane e apesar de algumas coisas, como a investigação atrás dele serem bobas, não cansa.

O gancho para a segunda parte é interessante para vermos até onde a série evolui, apesar de não parecer que vai se arrastar por muitas temporadas.

Lupin estreou dia 08 de Janeiro de 2021 e tem os 5 primeiros episódios disponíveis na Netflix. O elenco conta com Omar Sy (X Men Dias de Um Futuro Esquecido), Ludivine Sagnier (The Young Pope), Clotilde Hesme (O Poder de Diane) entre outros.

NOTA: 3.5/5

CRÍTICA: Pinóquio – Uma linda viagem pelas aventuras do boneco de madeira

Olá leitores do Premiere Line! Que saudades… Faz um tempão que não apareço por aqui. Aliás, feliz ano novo hahaha sei que estamos no final de janeiro, mas boas vibrações nunca é demais. Na última semana assisti à minha primeira cabine de imprensa de 2021 e vou contar sobre a delícia de filme que é “Pinóquio”, dirigido pelo italiano Matteo Garrone.

Assim como se é esperado, “Pinóquio” conta a história do famoso boneco de madeira, desde o momento em que seu criador Gepeto o esculpe e nos leva para diversas aventuras que misturam a curiosidade de um garoto e as limitações de um brinquedo. Situações como ir à escola se tornam homéricas epopeias assim como acabar na barriga de um peixe gigante.

Além de ser uma história emocionante, “Pinóquio” de Garrone é plasticamente incrível. Incrível não, lindo! Lindo não, maravilhoso!!!! Não é possível descrever em palavras o quão magnifico é o trabalho de Francesco Sereni, diretor de arte do longa-metragem que também já trabalhou em grandes produções como “Dois Papas” do brasileiro Fernando Meirelles. O equilíbrio do teatral e do cinematográfico é encantador. Com cenários, figurinos e diálogos lúdicos, o filme evidencia a infância do público sem se importar se o espectador tem 8 ou 80 anos. Bonecos que ganham vida e peixes falantes não se contentam em não causar estranhamento, algo normal em um filme como este, mas também geram afeto e simpatia. Ao terminar o filme, você vai desejar que todos os personagens carismáticos ganhem seus spin-offs, até mesmo os vilões Gato e Raposa rs

Por ser levado e desobediente, Pinóquio passa por diversas provações ao longo dos 120 minutos que compõe o filme. Seria cansativo ver tanto sofrimento para um garoto, quer dizer, um boneco de madeiro ainda tão criança.  Mas cada desafio traz também um novo universo que nos insere em uma imersão fantasiosa extremamente satisfatória.

Com um desenvolvimento de personagem aprimorado, ‘Pinóquio” é uma ótima opção para a criançada que deixará a sala de cinema com uma leve lição de moral e um grande acréscimo em seu repertório artístico, exatamente como filmes infantis devem ser. Ah, sem contar o divertimento para os adultos. Vale muito a pena!

“Pinóquio” está disponível nos cinemas.

NOTA: 4/5

CRITICANDO: Wandavision – Estranho começo

Dando o ponta pé inicial no universo expandido da Marvel a série apresenta um recomeço instigante apesar de monótono.

Após os eventos de “Vingadores: Endgame” (2019), Wanda Maximoff/Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany) se esforçam para levar uma vida normal no subúrbio e esconder seus poderes. Mas a dupla de super-heróis logo começa a suspeitar que nem tudo está tão certo assim. Eles se encontram, na verdade, dentro de uma constante sitcom, que vai desde a década de 50 até os dias de hoje. Conforme o tempo passa, Wanda e Visão perdem o controle da situação, sem saber mais o que é real e o que é ficção. Eles ficam presos em um eterno vai e vem: da Era de Ouro da TV nos EUA, com imagens em preto e branco, ao presente – e vice-versa.1“.

Finalmente estreou a primeira série da Disney+ e em seus dois episódios lançados Wandavision ainda não disse a que veio, apesar de já chamar a atenção.

Pra quem busca ação e aventura esqueça a série por hora, não vai achar nada disso em nenhum dos episódios. Caso queira um comparativo é mais parecido com um episódio sem resolução de “Além da Imaginação” do que algo da própria Marvel.

A estética e roteiro de sitcom me pegaram no começo, porém vai cansando com o tempo. Se tem um acerto total é nas deixas do texto que te fazem lembrar que a série é maior do que realmente se apresenta.

A falta de naturalidade nos textos para simular programas dos anos 60/70 é compensada felizmente pelos ótimos atores Elizabeth Olsen e Paul Betanny que realmente estão muito bem na posição de estranheza e aqui tem muito mais química que em todos os filmes que estiveram juntos anteriormente.

Os episódios são curtos o que ajuda na sensação de que você literalmente não viu nada acontecer durante seus 30 minutos, porém existe algo na série. Um charme nesse mistério oculto que te faz querer saber mais sobre ela.

Se essa realidade paralela estiver 100% criada por Wanda, podemos ter alguns problemas em breve no universo Marvel, pois ela realmente aparenta estar no controle de todas as situações e sendo assim caminhando para se tornar o “milagre” que deve trazer os mutantes para esse universo.

Como citei antes a série tem muito potencial porém ainda se mostrou muito pouco como o grande prelúdio de Multiverso Da Loucura (ou Doutor Estranho 2 como preferirem) que foi anunciado.

Wandavision estreou no dia 15 de Janeiro de 2021 e já conta com dois episódios no Disney+. Dirigida por Jac Schaeffer (Viuva Negra) o elenco conta com Elizabeth Olsen (Terra Selvagem), Paul Betanny (O Código da Vinci) e Kathryn Hahn (Mrs Fletcher) no elenco principal.

NOTA: 3.5/5

Review | Com ótimo encerramento, 3ª temporada de ‘Baby’ mostra como é possível continuar após um trauma

Cuidado! O texto abaixo contém spoilers da série. 

No dia 18 de setembro, a Netflix lançou a última temporada de Baby, série italiana original da plataforma de 2018. A história é focada nas jovens Chiara (Benedetta Porcaroli) e Ludovica (Alice Pagani) que, apesar de parecerem ter tudo e estudarem no melhor colégio da cidade, começam a fazer parte de um esquema de prostituição para (à princípio) se divertirem gastando o dinheiro juntas em Roma. 

Baby é baseada em um caso real que aconteceu na Itália em 2014 e ficou conhecido como Caso Baby Squillo, envolvendo uma menina de 14 anos e outra de 16, que realizavam programas para comprar artigos de luxo, roupas de grife e celulares caros. Os pais de uma delas começaram a suspeitar que a filha estivesse envolvida em atividades do gênero por conta da alta quantia de dinheiro arrecadada, e uma investigação foi iniciada. As autoridades descobriram que as garotas ganhavam mais de 500 ou 600 euros por dia e que elas tinham sido aliciadas por um homem que havia garantido dinheiro fácil. Além disso, foi revelado que a menina mais nova foi forçada pela mãe a continuar se prostituindo para ajudar a contribuir com as despesas da casa. 

A terceira temporada chega dando continuidade ao final polêmico em que Damiano (Riccardo Mandolini) descobriu toda a verdade sobre Chiara se prostituir; ela, por sua vez, além de ter conseguido chantagear Brando (Mirko Trovato) com um vídeo de seu pai se envolvendo com uma acompanhante menor de idade, convenceu Ludovica a continuar dentro do esquema comandado por Fiore (Giuseppe Maggio), após esta ter sido perseguida por um homem assustador (contratado por seu ex) e assediada por seu professor. Paralelamente, a homossexualidade de Brando é revelada para todos no colégio, Niccolo (Lorenzo Zurzolo) é enganado por sua namorada que diz estar grávida e Fabio (Brando Pacitto) finalmente parece encontrar o amor com o início do namoro com Alessandro (Ludovico Succio).

Diferentemente do começo da série, em que as meninas encaravam o esquema de prostituição mais como uma “aventura” da qual tinham o controle, essa temporada traz à tona o choque de realidade das personagens em meio à situação que se envolveram, especialmente Ludovica, que é retratada de forma ainda mais “frágil” e pedindo desesperadamente por ajuda em meio a tudo que está vivendo: a negligência da mãe, Simonetta (Isabella Ferrari) perante a situação, a insistência de Fiore para que ela continue no esquema e reate o relacionamento com ele, além de todo o seu esgotamento emocional, sentindo-se totalmente incapaz de terminar os estudos e ter uma perspectiva de vida, encontrando consolo nas drogas. 

Ao longo dos seis episódios, também podemos ver o amadurecimento de Chiara, apesar de no início parecer ter “aceitado” e “se acostumado” a encontrar-se com homens mais velhos em troca de dinheiro, mesmo que isso signifique o fim de seu relacionamento com Damiano. A partir do momento que todo o colégio descobre que também há uma garota ali que se prostitui, Chiara enfim toma consciência de que precisa encerrar essa fase tóxica de uma vez por todas. Apesar de continuar agindo por impulso, não se importando com a carreira política da mãe, ela apresenta uma das grandes evoluções de sua personagem quando decide fazer uma live contando toda a verdade para salvar sua melhor amiga. 

Além de ter sido bem fiel ao caso real da prostiuição, Baby explorou também outras temáticas ao longo de suas primeiras temporadas, como o uso de drogas na adolescência, relacionamento entre aluno e professor, relações abusivas e a sexualidade, sendo esta última um dos destaques da terceira temporada graças a Brando, que finalmente se aceita como gay e assume seu amor por Fabio, abrindo mão inclusive de sua estrutura familiar. Outro destaque em termos de evolução de personagem é Niccolo, que se mostra completamente solícito e determinado até o fim para ajudar Chiara a deixar a prostituição.

Se em todos os episódios houveram surpresas e plot twists, o último soube encerrar a série com maestria, mostrando o julgamento e a condenação de Fiore e Simonetta, e os respectivos e coerentes finais de Fabio e Brando juntos e Damiano dando início a um novo capítulo de sua vida com um relacionamento mais saudável. Com Chiara no abrigo como forma de punição pela história de Sofia, encarando as consequências de seus erros, e Ludovica enfim conseguindo se formar e indo para a faculdade de arte em Paris, Baby mostrou como a vida continua (de uma forma ou outra) para as vítimas de abusos e que, apesar de separadas, as duas amigas continuarão para sempre ligadas por tudo o que viveram juntas e pelo amor que sentem uma pela outra.

REVIEW | Hollywood – Nova série de Ryan Murphy expurga sentimentos em época de quarentena

Eu lembro a primeira vez que fui introduzido à Patti LuPone. Eu tinha 13 anos e a vi por cerca de 200 segundos no último episódio da segunda temporada de “Glee”. New Directions estava em Nova Iorque para o Campeonato Nacional de Corais Estudantis e a protagonista Rachel Berry, interpretada por Lea Michele, avista LuPone no Sardi’s – icônico restaurante nova iorquino. Nesta altura, esta série já teria mudado tanto minha vida, ao apresentar Patti, Liza, Barbra…, mas o mais importante seria a oferta da oportunidade em assistir o processo de aceitação de um adolescente gay igual a mim Acompanhar a história de Kurt Hummel, personagem de Chris Colfer, foi o que deu forças ao pequeno eu. Um sopro de crença em uma possível e potencial vida ordinária. “Glee” foi criada por Ryan Murphy. Ryan é responsável indireto por uma revolução no cenário televisio atual. A forma como seus shows retrataram o adolescente queer do século XXI ensinou a importância da representatividade na TV e no Cinema. Uma década depois, Ryan dá um passo adiante em um movimento corajoso: em “Hollywood”, a nova série original da Netflix, o showrunner reescreve a história da indústria cinematográfica, a transformando mais inclusiva desde a década de 40.

Cory Monteith, Lea Michele e Patti LuPone no set de Glee

Em “Hollywood” Patti interpreta Avis Amberg, esposa do dono de um estúdio de cinema em Los Angeles. Após seu marido ter problemas de saúde, Avis assume a empresa e dá início ao um projeto ousado para a época: um filme escrito e protagonizados por artistas pretos. Além de brincar com a realidade, a série parece homenagear profissionais que colocam sua carreira em risco ao decidir ir contra as regras de um mercado que tanto segrega.

Com um papel escrito para ele, Darren Criss, outra estrela de Glee, interpreta Raymond Ainsley, sua própria versão de Ryan, um diretor focado na transformação social através das artes. O ator faz parte de um elenco bem selecionado: Dylan McDermott como Ernie inspirado em Clark Gable, a sensacional Holland Taylor no papel de Ellen Kincaid e os jovens Laura Harrier e Jeremy Pope, respectivamente Archie e Camille, que nos encantam com beleza e talento. Uma pena que nem todo mundo imprime bem em cena. Os “galãs” David Corenswet e Jake Picking não oferecem nada além de uma beleza gregoriana, se limitando ao ofício de serem sexualmente atraentes.

Darren Criss, Jeremy Pope, Davie Corenswet e Jake Picking

A série cria um jogo entre ficção e realidade. Um dos pontos altos da série é a participação de Queen Latifah como Hattie McDaniel, a primeira atriz negra ganhadora de um Oscar em 1940. A personagem de Latifah emociona e serve como uma depuração de mágoas. Os diálogos e as ações de McDaniel em “Hollywood” surgem como um desabafo, uma reação aos muitos anos de um apartheid artístico. Quem também tem sua redenção nessa brincadeira foi Rock Hudson, papel de Jake Picking, que pode viver um romance sexual sem se esconder. Assim como no programa, Hudson foi um ator que teve sua sexualidade exposta pela mídia.

Quem merece um destaque especial neste texto é Jim Parson, popularmente conhecido como Sheldon de “The Big Bang Theory”. O ator interpreta Henry Wilson, um agente de astros e estrelas hollywoodianas. Wilson também existiu no mundo real e comanda um dos caminhos mais interessantes no roteiro de “Hollywood”. O personagem de Parsons parece ter sido inspirado pelos assediadores expostos por movimentos como Time’s Up e Me Too se tornando uma versão homossexual desses canalhas. No programa, Henry coagia seus clientes a manterem relação sexual com ele em troca de trabalho. A ótica gay em cima do assédio sexual (e moral) também tem sua importância pois não só caracteriza atitudes repulsivas, mas nos faz encarar a realidade como uma forma legítima de viver sua orientação sexual em uma época de repressão sexual, principalmente em relacionamentos homoafetivos.

Jim Parsons e Queen Latifah

Outro movimento ousado em “Hollywood” é a desconstrução do que conhecemos como vilania. Aqui o antagonista não é a loira magrela e nem a velha amargurada. Como na realidade, na série, o verdadeiro vilão é o patriarcado e quem se beneficia deste sistema. Não há espaço para a rivalidade feminina ou qualquer outro clichê utilizado de forma tão exagerada nos últimos anos a ponte de ser factível.

A crítica especializada pode até ter caído de pau em cima de “Hollywood”. Convenhamos que a série falha nas motivações secundárias e exibe um discurso redundante na tentativa de igualar seu público por baixo. Nada disso compromete a narrativa ou impede o ganho de força ao longo dos sete episódios, tendo um dos finais mais emocionante dos últimos tempos da televisão norte-americana. A série original da Netflix é catártica e ajudo o espectador no expurgo de todas os sentimentos e emoções deste momento tão difícil que vivemos por causa da pandemia do covid-19.

“Hollywood” está disponível no catálogo da Netflix.

DICA DE QUARENTENA | Secreto e Proibido – Documentário mostra romance lésbico iniciado na década de 40

A chegada de Ryan Murphy na Netflix prometia bom conteúdos televisivos. O grande showrunner estadunidense foi responsável por sucessos passados como “Glee” e “Nip/Tuck”, e atualmente comanda as séries “American Horror Story”, “American Crime Story” e “Feud”. Na Netflix, Ryan já estrou The “Politician”, programa estrelado por Ben Platt, Gwyneth Patrol e Jessica Lange. Agora, Murphy estreia o documentário “Secreto e Proibido” produzido por ele e dirigido pelo novato Chris Bolan. O filme conta a história de um casal lésbico que estão juntas a mais de 70 anos. As dificuldades em ser LGBT no século passado e problemas que chegam com a velhice são o ponto central do longa.

Terry Donahue e Pat Henschel se conheceram na década de 40 e a partir daí viveram um romance escondido. Disfarçadas como primas, Pat e Terry dividiram uma vida em segredo, revelando o amor mútuo para seus colegas e familiares recentemente.

O retrato de um relacionamento afetivo entre pessoas gays na terceira idade é escasso no cinema e na televisão, principalmente ao se tratar de uma relação entre duas mulheres. “Secreto e Proibido” delineia esta história de forma cuidadosa. Não se trata em apenas duas senhoras lésbicas, mas de um matrimônio entre dois seres humanos de 90 anos. Mostrar as adversidades em ser queer durante os anos 40 (e 50, 60, 70…) não é a única preocupação de Bolan e Murphy. Problemas ocasionados pela velhice, como saúde e solidão, completam a narrativa do documentário trazendo uma bifurcação interessante na trajetória de Donahue e Henschel.

Se fala muito sobre como tribulada era a vida de um jovem gay no século passado. A revolta de Stonewall se torna cada vez mais popular ao longo dos anos e assim aprendemos muito sobre a luta de jovens mulheres transexuais e homens gays. Mas onde as lésbicas se enfiam nessa história? Um ponto que me satisfez ao assistir “Proibido e Secreto” foi a exposição de revoltas e protestos em bares lésbicos em reação às batidas policiais que chegaram a prender mais de 90 meninas em uma noite. Protestos esses que aconteceram antes mesmo das famosas revoltas em Nova Iorque. Mulheres… Sempre a frente dos homens!

Apesar de viverem na mesma casa por décadas, Terry e Pat não tinham o direito de se casar até alguns anos atrás. Por que diabos um casal de 90 anos que compartilhou a vida inteira iria querer consumar a relação com um casamento já no “final” de uma trajetória. A ideia divide opiniões entre as duas, mas é novamente um acerto do documentário que expõe o embate criando uma jornada a respeito do tema.

É fundamental que histórias como essa surjam em épocas onde o ativismo LGBT no mundo ocidental avança com o passar do tempo. É preciso normalizar o gay idoso pois essa será a realidade uma grande parte da população num futuro não muito distante. Quem resistiu à homofobia, ao genocídio queer e à epidemia da AIDS são sobreviventes que merecem nosso respeito. Precisamos conhecer essas histórias e entender que antes de nós tiveram heróis e heroínas que lutavam de cara limpa ou mascaradas.

“Secreto e Proibido” está disponível no catálogo da Netflix.

Charli XCX compartilha trecho de música inédita

Nesta semana a cantora britânica Charli XCX, compartilhou em suas redes sociais um trecho instrumental da música “Forever”, que estará em seu novo álbum de estúdio.

Vale lembrar que o novo projeto da cantora se chama “How I’m Feeling Now”, e será lançado em todas as plataformas digitais em 15 de Maio.

“Aqui está o instrumental da primeira música que eu desenvolvi para o álbum. Ela se chama ‘Forever’. Eu vou compartilhar a versão com meus vocais/ideias principais em uma live do Instagram em três horas”

CRITICANDO: Bloodshot – Chegou atrasado na festa

Sabe quando você fica com a sensação de que alguma coisa é ruim pela falta de timming? Que parece ser de outro tempo? Bloodshot seria um ótimo filme de ação, a 20 anos atrás.

Bloodshot é um ex-soldado com poderes especiais: o de regeneração e a capacidade de se metamorfosear. Assassinado ao lado da esposa, ele é ressuscitado e aprimorado com nanotecnologia, desenvolvendo tais habilidades. Ao apagarem sua memória várias vezes, ele finalmente descobre quem realmente é e parte em um busca de vingança daqueles que mataram sua família.

Já lendo a sinopse temos um padrão muito comum de filmes de ação, a vingança. Desejo de Matar, Robocop, insira qualquer filme do Steven Seagal que se lembrar aqui… E bom, para filmes de heróis também não vai ser o que vai se lembrar assim que sair do cinema.

Vin Diesel é um nerdão que acredita muito em seus projetos e Bloodshot é um quadrinho bem obscuro e desconhecido no meio. Veio no meio de um turbilhão de coisas lançadas para capitalizar com uma época na qual QUALQUER HQ vendia pelo simples fato de ter um ser fantástico em sua capa. Dá pra ver que o nosso Toretto se esforça e o peso do filme é grande demais até pro nosso bombado favorito (MAL AÍ THE ROCK).

O filme não tem absolutamente NENHUMA surpresa na trama, uma vez que se você estava empolgado para ver e acompanhou a divulgação eu tenho uma péssima notícia para você: O marketing do filme te deu tudo. Simplesmente todas as sequencias de história e ação mais “marcantes” estão lá.

Não é completamente descartável: As simulações de realidade são ótimas, a forma que trazem para a reconstituição de mundo é uma excelente e atual ideia, Vin Diesel tenta aqui e ali dar um toque de drama, sua companheira de cena Eiza Gonzales entrega uma personagem bacana e com motivações aceitáveis. O problema vem JUSTAMENTE do resto do elenco.

Todo mundo aqui é malvadão, tipo gente ruim mesmo, gananciosa… Mas aí que mora o perigo: Atuar sendo uma pessoa ruim que era pra ter camadas, afinal de contas você precisa ser malicioso para controlar super soldados, não era pra ser uma coisa difícil para um ator gabaritado como Guy Pearce, mas o roteiro é ruim e a direção fraca. Basicamente um amontoado de pessoas atuando de maneira afetada e sim, estamos em 2020 e HACKERS AINDA DIGITAM NA VELOCIDADE DA LUZ COM 10 TELAS LIGADAS AO MESMO TEMPO. Os alívios cômicos, bom eles eram para existir mas simplesmente NENHUMA piada encaixa. E olha que tem momentos que o filme PARA TUDO para se fazer uma piada e quase espera o público rir, como em uma cena de Friends ou The Big Bang Theory.

As cenas de ação abusam do slow motion e ao contrário de um filme do Snyder (saudades) aqui elas servem mais para mascarar uma cena ruim do que para acionar peso. Temos as cenas de reconstituição e regeneração que são bacanas nas primeiras duas vezes, depois da quinta você já está de saco cheio.

E bom, filme de heróis dependem bastante dos seus efeitos né? A batalha final aqui é digna de cut scene de playstation. Com todo respeito a jogos como Detroid Become a Human The Last Of Us mas os bonecos de cera voando pelo fosso de um elevador foram bem incômodos e era uma cena que teria a mesma emoção em um lugar mais contido, uma vez que o CGI das armaduras dos vilões não eram tão ruins em cenas mais fechadas, porém como tinha que existir o exagero da última batalha perderam a mão (chamo de efeito Esquadrão Suicida).

Bloodshot pode funcionar caso não tenha mais nenhuma opção para assistir ou só queira ver coisas explodindo mas sem o dinheiro do Michael Bay, se quer ver só pelo Vin Diesel, não é seu pior filme, mas não entra na lista por um triz (Alô Último Caçador de Bruxas).

Dirigido por Dave Wilson II (Love, Death, Robots) e estrelando Vin Diesel (Saga Velozes), Eiza Gonzales (Alita: Anjo de Combate), Guy Pearce (Duas Rainhas), Toby Kebbell (Kong A Ilha da Caveira) entre outros o filme estreia dia 12 de Março de 2020.

NOTA: 2.5/5

 

CRITICANDO: A Maldição do Espelho – Eu já vi isso antes

Depois do sucesso de Parasita outros mercados tentam entrar na rota de público, mas definitivamente a Rússia ainda não está pronta.

Depois que o terrível fantasma da Rainha de Espadas ressurge, os alunos de um antigo colégio interno viram as próximas vítimas do banho de sangue. O terror começa a partir do momento em que eles recitam antigos encantamentos no banheiro do local para conquistar tudo o que desejam — mesmo que o preço seja suas almas.

O que mais se tem no gênero de terror são clichês inúmeros: Adolescentes com hormônios a flor da pele brincando com magia, mulheres amaldiçoadas por tentarem realizar desejos pessoais, lugares abandonados que aconteceram coisas nefastas (ÓIA QUE PALAVRA BONITA)… O problema é que “A Maldição do Espelho” é um amontoado dessas histórias já batidas com uma tentativa de subversão para um plot twist que não fede e nem cheira.

A primeira cena já nos apresenta os protagonistas sem enrolação de forma claríssima e direta. Chegamos então aos coadjuvantes e lá temos de novo o mais comum grupo do terror: Uma garota desajustada com traumas, uma criança medonha, um rico com problemas de falta atenção que desconta nos outros alunos, um nerd que sofre bullying mas segue com os populares, a garota bonita e sexy que faz besteira para a mãe notar que ela existe e uma garota acima do peso que deseja ser magra como a mãe pede.

Como pano de fundo, eu aposto que vocês já ouviram falar da “Loira do Banheiro” certo? Bom, pelo visto cada país tem o seu e aqui temos a Rainha de Espadas. Para chamar basta falar seu nome 3x em frente a um espelho e fazer um desejo de coração. Obviamente como é um filme de terror os desejos se realizam, porém a um custo alto e não da forma que se imaginava.

Vou admitir que existe um preconceito velado com atores não padronizados. Vou explicar: Sempre falamos do exagero latino em novelas mexicanas, venezuelanas ou argentinas e tendemos a preferir atores americanos ou europeus em alguns papéis que nem deveriam ser feito por eles. Existem as exceções mas sabemos o padrão. Filmes russos não são comuns no nosso mercado e eles se esforçam até, as atuações não são ruins ou afetadas porém claramente a barreira da língua pesa, principalmente pela cópia que eu tive acesso ser de um filme russo, dublado em inglês e legendado em português, já deixo inclusive a confirmação de que dublagem estadunidense é ruim sim, acreditem.

Eu queria de verdade que o filme fosse uma boa surpresa, mas não consegue assustar pela previsibilidade, inclusive na revelação final, com uma edição bem pobre apesar de não se prejudicar no orçamento para locações e produção. A ideia de fazer a maior parte dos sustos virem por meio de CGI também é uma escolha que tira muito o peso do medo, apostando em jump scares ocasionados (IMAGINO EU) por uma falta de verba maior para ter o monstro em tela.

O filme não vai funcionar para adolescentes se assustarem, não vai funcionar pra quem gosta de terror e nem para passar um tempo, uma vez que é bem sonolento. Espero que seja só uma tentativa fraca de um novo mercado bom surgindo, afinal agora “abrimos a porteira” para surpresas de outros países.

Dirigido por Aleksandr Domogarov e estrelado por Angelina Strechina, Tatyana Kuznetsova, Daniil Izotov entre outros o filme estreia dia 12 de Março de 2020.

NOTA: 1.5/5

 

 

CRITICANDO: Aves de Rapina: Arlequina E Sua Emancipação Fantabulosa – Simples, direto e divertido

Arlequina (Margot Robbie), Canário Negro (Jurnee Smollett), Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), Cassandra Cain e a policial Renée Montoya (Rosie Perez) formam um grupo inusitado de heroínas. Quando um perigoso criminoso começa a causar destruição em Gotham, as cinco mulheres precisam se unir para defender a cidade.

Parece que na nova fase “episódica” da DC nos cinemas existe espaço para todos: Um Aquaman super grandioso, um SHAZAM mega família, um Coringa de Oscar e um grupo de garotas badass que deixaria “As Panteras” bem chateadas por não verem o quão simples era acertar em cheio.

Não me entenda mal, Aves de Rapina está LONGE de ser um filme perfeito, porém em um momento no qual discutimos a necessidades de personagens femininas fortes ORIGINAIS, não apenas versões como uma possível 007 mulher ou um grupo de caça fantasmas, Arlequina e suas amigas (como apelidado) se diverte com suas próprias possibilidades.

Tendo a doutora (COM DOUTORADO SIM ~segundo a mesma que não é uma fonte confiável) palhaça do crime como narradora oficial somos levados a ver todo seu processo de luto pelo término com o Coringa e logo aqui já levamos um primeiro tapa social: Harley nunca foi vista como uma pessoa, apenas era um acessório de seu namorado. Inclusive a mesma cita que por diversas vezes ele levou crédito sobre crimes que ela cometeu.

Margot não perdeu o jeito. Todos os trejeitos de Esquadrão Suicida aqui estão melhorados e com seu tempo em tela fica fácil dela brilhar mais ainda. O filme, para ajudar, ainda toma a liberdade de usar narrações, animações, musicais e muita coisa das HQ´s como tiros coloridos e mudanças súbitas de figurino. Conseguindo levar uma dramaticidade que apenas arranhamos em sua primeira aparição, fica aqui o gosto mais uma vez de que aquele filme poderia ter sido MUITO melhor (e não, NÃO FOI o Coringa Leto que o estragou, mas falaremos sobre ele).

Para compor o time das mocinhas temos a Canário Negro, que busca apenas sobreviver após um trauma de sua vida, sem se importar para quem trabalha, porém com um coração grande, ela acaba sendo uma das personagens que mais tem um passado pesado, mostrando como as mulheres são caladas e vêem outras serem humilhadas sem fazer nada por se sentirem impotentes. Ironias a parte, é a melhor figura de linguagem uma vez que o poder da personagem é a voz. A detetive Renée Montoya passa por uma situação, infelizmente normal, para muitas mulheres: Trabalhar muito e certo e um homem levar sua promoção e um outro ponto interessante é que ela é a a mais velha do grupo, mostrando também que nunca é tarde para se sair de uma posição incômoda. Temos Cassandra Cain, uma órfã que bate carteiras e acaba por acaso no meio dos planos do vilão. Imigrante, pobre e adotada por uma família problemática ela é um excelente ponto para ver que amor no lar (por mais que seja com uma “EX” criminosa) faz muita diferença. Nesse cenário a única que destoa é a Caçadora (piada recorrente inclusive o seu nome no filme) que é a personagem que basicamente é movida a vingança.

No filme temos apenas dois vilões: Zsasz, o famoso capanga que é até um bom personagem, mas fica bastante na sombra do grande vilão, para mim TOP 3 FÁCIL desse novo universo DC: Máscara Negra. Ewan McGregor está solto e suave no papel, fazendo suas afetações serem composição e não caricatura a um personagem que mostra o homem perigoso: Vaidoso, egocêntrico, rico, desrespeitoso e que acha que mulheres são propriedades.

Tudo isso funciona lindamente, só não funciona perfeitamente pois a montagem do filme fez ele ser meio sofrido. É perceptível as cenas das refilmagens e as que não são, fazendo alternar entre algumas coreografias de lutas incríveis com algumas meia boca. Umas barrigas aqui e ali para encher linguiça também ficam evidentes no começo do segundo ato, talvez um medo do filme ficar curto demais.

Aspectos técnicos são muito impressionantes uma vez que o orçamento do filme foi bem curto (75 milhões sem contar as refilmagens) porém a roteirista do filme se prova uma excelente nova aposta uma vez que “Bumblebee” e Aves de Rapina são filmes de “baixo” orçamento (se comparados as franquias principais das quais fazem parte) que funcionaram muito bem com suas limitações apostando alto numa história simples e carisma.

Uma coisa “ruim”: É e não é uma continuação! O Coringa de Jared Leto é completamente ignorado, ou quase completamente. Nenhuma representação dele é parecida, tirando uma cena reaproveitada de Esquadrão e uma na qual ele aparece de costas, porém a própria Arlequina fala sobre os eventos do seu filme de origem numa boa… Fica aí a pergunta de como vão amarrar isso aí.

Dirigido por Cathy Yan (Dead Pigs), Aves de Rapina: Arlequina e a Sua Fantabulosa Emancipação conta com Margot Robie (Era Uma Vez…Em Hollywood), Jurnee Smollett-Bell (True Blood), Rosie Perez (Rise), Mary Elizabeth Winstead (Projeto Gemini), Ella Jay Basco (Teachers), Ewan McGregor (Doutor Sono) e Chris Messina (Sharp Objetics) o filme estreia no Brasil no dia 06 de fevereiro de 2020.

NOTA: 3.5/5

 

Crítica – Os Miseráveis: Não há ervas daninhas nem homens maus

Junho de 2018. Copa do Mundo de Futebol. França versus Croácia. A equipe francesa vence de 4 a 2, levando torcedores por toda Paris à loucura. E é assim que se inicia “Os Miseráveis”. Não, eu não estou enlouquecendo e nem falando do romance de Victor Hugo. A descrição é do filme dirigido pelo cineasta Ladj Ly que tem Montfermeil como cenário; mesmo bairro onde Cosette e Jean Valjean se cruzam em Les Mis. Na versão atual nenhum pão é roubado, mas um filhote de leão é sequestrado de uma família circense e a partir daí se desenvolve a história de três policiais do departamento anticrime abusando de sua autoridade para resolver o crime.

Tendo o gueto parisiense como plano de fundo, Os Miseráveis nos apresenta uma visão de Paris que pouco (ou nunca) é exportada. Montfermeil é um ambiente abandonado pelas entidades governamentais com exceção da polícia. O filme denuncia o descaso com a população – com ênfase nos mulçumanos – segregada da sociedade francesa e evidencia a violência policial principalmente com as crianças locais. A referência é clara aos protestos que aconteceram em Paris no ano de 2005, quando a população se revoltou com os abusos violentos da polícia local que afetava principalmente menores de idade.

O personagem com mais destaque é Issa, um garoto de aproximadamente 13 anos, que é a primeira e última coisa que vemos no longa. Issa apronta como um jovem de sua idade, mas é punido como um adulto e assim o desenvolvimento do personagem do começo ao final se torna o movimento mais brilhante durante “Os Miseráveis”. O Valjean da nossa geração, rouba do circo local um pequeno leão e acaba enfurecendo o dono da atração que conta com o auxílio da polícia para capturar o bicho e punir o “assaltante”. De forma fluída, Ladj traça um paralelo com a história de Victor Hugo e nos mostra que pouca coisa mudou desde o século 19.

O diretor, que já havia realizado um curta metragem homônimo e com a mesma temática, é completamente feliz nas escolhas que faz. A costura entre a narrativa e a estética nos aproxima ainda mais de Mentfermeil. Um dos destaques do filme é uso de drones, para aprimorar o visual e a narração do enredo.

“Os Miseráveis” têm a miserável missão de bater o sul coreano “Parasita” na disputa do Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira este ano, já que a obra foi indicada pela França e conseguiu passar pela primeira eliminatória. O longa disputou a vaga com “O Retrato de Uma Jovem em Chamas”, também francês e indicado ao Globo de Ouro, mas acabou levando a melhor. É possível ainda que ambos filmes sejam indicados ao Academy Awards, já que “O Retrato…” está cotado para concorrer a categoria de Melhor Fotografia.

Inteligente e longe do pretensiosismo, Ladj Ly cria uma obra que reflete abuso de autoridade, racismo, crise migratória e corrupção. Afinal, há sim, maus cultivadores.

 “Os Miseráveis” estreia dia 16 de janeiro nos cinemas.

CRÍTICA: Frozen 2 – Menos chiclete, igualmente bonito

A continuação do estrondoso sucesso da Disney tem uma história simples e efetiva que não vai pro lado megalomaníaco e prefere uma introspecção.

De volta à infância de Elsa e Anna, as duas garotas descobrem uma história do pai, quando ainda era príncipe de Arendelle. Ele conta às meninas a história de uma visita à floresta dos elementos, onde um acontecimento inesperado teria provocado a separação dos habitantes da cidade com os quatro elementos fundamentais: ar, fogo, terra e água. Esta revelação ajudará Elsa a compreender a origem de seus poderes.

A quase 7 anos atrás a Disney (que nem precisava) nos mostrou um novo clássico moderno: Frozen. A premissa de uma irmã tentando salvar a outra não era bem a novidade aqui, porém a ausência de elementos normais como um príncipe salvando o dia foi tirada para colocar apenas um amor familiar. Juntamente com músicas poderosas como “Você quer brincar na neve” e “Livre Estou” o longa se firmou como uma das maiores marcas na história do estúdio quase instantaneamente. Hoje estreia a sequencia que veio para mostrar que o tempo fez bem a história.

Tentando nos apresentar um pouco mais do passado de Elsa e Anna, Frozen 2 já nos coloca na narrativa a insatisfação da agora rainha de Arendelle que por mais que ame a irmã se sente deslocada e insatisfeita em ficar no reino.

Isso nos leva diretamente a outra jornada de conhecimento, mas dessa vez não só uma descoberta pessoal de Elsa, mesmo que sendo totalmente a protagonista, vemos também um crescimento dos outros personagens: Anna se firmando como uma mulher independente que não mede esforços para poder salvar a todos sem a presença masculina, Kristoff mantém a essência do caipira apaixonado mas tenta também ajudar no crescimento de sua parceira sem tentar ofusca-la e Olaf percebe que a vida de um boneco de neve era para ser curta então se vê em uma crise existencial para saber como não ter medo de viver até se tornar “adulto”.

Quase uma década após o lançamento do original a missão de Frozen 2 era bem complicada: Reafirmar o poder de venda da marca e dialogar não só com as crianças (hoje pré adolescentes) que viram o primeiro mas também com toda uma nova leva de público.

Tomando uma decisão que parecia não ser muito sábia a Disney veio na contramão e ao invés de entregar tudo muito mastigado resolveu entregar algo muito mais maduro (embora não o suficiente para tirar a magia infantil da história) do que seu material original. O roteiro é bem direto, sem ter grandes reviravoltas e atualiza de uma forma EXTREMAMENTE divertida quem nunca viu o primeiro (se é que isso existe). O ponto fraco fica pelo excesso de pontas e personagens apresentados que nunca ganham foco como os trolls que aparecem DO NADA e os novos amigos das irmãs.

As músicas aqui tem uma estrutura muito similares com as do primeiro, incluindo arranjos o que é meio decepcionante em certo ponto, porém também contando com duas cenas sensacionais: Um número de Olaf que mais musical é impossível e a música “Lost In The Woods” (realmente não achei o nome em português brasileiro da música) que tem um tom satírico sobre boybands dos anos 90 maravilhoso. A música carro chefe, “In To The Unknow” ou “Minha Intuição” já está no top Billboard (mais tocadas dos EUA) tanto na versão de Idina Menzel (dubladora original de Elsa) e na versão “pop” cantada pelo Panic!At The Disco, ela não tem PRA MIM a mesma força de “Let It Go”, mas mantém a fórmula da música original tendo momentos de alternância na melodia e notas agudas potentes.

A nota ruim do filme além das músicas menos grudentas e a falta atenção aos personagens secundários infelizmente fica para a dublagem e adaptação brasileira. Sou um defensor assíduo da dublagem e da regionalização de materiais porém aqui o sentido das músicas, principalmente do número principal, é um desserviço. Veja bem: In to the unknow significa “rumo ao desconhecido” e na versão tupiniquim ficou “minha intuição” como já mencionado. Percebam que isso tira bastante a força do discurso de se arriscar e coloca em um destino ou força sobrenatural os poderes de decisão de Elsa. Além do fato da voz de Taryn Szpilman é estranha ao cantar ficando muito anasalada (Idina canta assim também porém com muito menos afetação que a intérprete brasileira) e já no primeiro filme alguns agudos adaptados por causa da fonética ficam bem estranhos.

O resto dos dubladores todos numa boa com exceção a Fábio Porchat que sabe se impor na dublagem de Olaf quase me fazendo esquecer que o ator conhecido por seus trejeitos cocaínoma (expressão do teatro para quem é extremamente energético em cena) fazendo uma atuação doce e simples.

Dirigido por Jenifer Lee (Uma Dobra No Tempo) e Chris Buck (Tá Dando Onda) e estrelado por Kristen Bell (Veronica Mars), Idina Menzel (Glee), Jonathan Groff (Mindhunter), Josh Gad (Angry Birds 2) entre outros o filme estreia no Brasil dia 02 de janeiro de 2020.

NOTA: 3.5/5

REVIEW | YOU – Quando a caça vira o caçador (2° Temporada s/spoilers)

A tão esperada segunda temporada de You chegou na Netflix no dia 26 de Dezembro e para os fãs foi quase impossível não maratonar. Afinal, You se tornou quase um novo Dexter.

Quase.

Mesmo que ambos sejam diferentes na essência do seu ser. Eles são assassinos que lutam pela própria sobrevivência. Joe não é um psicopata, ou por definição um serial killer. Suas mortes quase “acidentais” giram em torno de sua necessidade de autopreservação e distorção passional. Ele é o típico sociopata funcional, onde consegue viver na sociedade e se relacionar com as pessoas mas se considera melhor e mais inteligente que todos ao seu redor.

E esse é o grande erro de Joe. Sua extrema presunção.

Para entender e aceitar o final dessa temporada é de suma importância entender seu passado e o que o tornou assim. Joe pode-se dizer que é um produto do trauma, do ambiente em que viveu. Sua mãe era uma mulher extremamente carente e apesar de casada, traía e mentia constantemente para o marido e Joe sempre estava ao seu lado. Já o pai de Joe os agredia e isso despertou nele um senso extremo de proteção.

Joe acha que precisa proteger. Sua mente distorce e fantasia ao seu favor. Sua necessidade diferente de um psicopata que gosta de matar, é cuidar. Ele sente a necessidade e obsessão de ter alguém para cuidar e proteger. E esse se torna também seu maior ponto fraco.

Dito isso, vamos a trama.

Assim como termina a primeira temporada, Candace enfrenta Joe logo no primeiro episódio. Mas sua presença significa uma ameaça para ele. Afinal, ela é uma de suas vítimas. Então ele decidi abandonar tudo e fugir. E é ai que ele acaba em Los Angeles. Mas Joe precisa de uma nova identidade. Assim, assumindo a identidade de um falsificador e hacker, ele agora se torna Will.

E você pode se perguntar. Mas o que difere essa temporada da primeira? Bom, a princípio em sua estrutura básica, o segundo ano segue a linha do primeiro. Mas agora Joe tenta não cometer os mesmos erros e ser uma pessoa melhor. Sua nova conquista o deixa extasiado. Love é perfeita para ele aos seus olhos.

O relacionamento deles de certa forma é mais aberto e “sincero” que o dele foi com Beck. Ele ainda mente para ela e comete atos absurdos. Mas ele quase pode ser ele mesmo com Love.

[ATENÇÃO SPOILERS A FRENTE]

É difícil não falar sobre certas coisas que aconteceram nesse segundo ano sem dar spoilers. Então a partir de agora siga por sua conta e risco.

Os primeiros 4 episódios como de praxe da Netflix, são lentos e constroem o novo ano. Mas You conta com uma direção e roteiro impecável sem furos que faz dela ser excepcionalmente boa. Você nota que é uma série de baixo custo mas que vale muito. Não é a toa que antes de estrear já estava renovada para sua 3° temporada.

Candace é o retrato da mulher que é vítima de várias injustiças tanto na sociedade quanto aos olhos da justiça. Ela é vítima de seu passado. Ninguém acredita nela. Mesmo aparecendo na delegacia após der enterrada viva, ninguém acredita. E é uma pena que ela tenha dito o final que teve. Pessoalmente acho que é a única falha dessa temporada. Sua personagem poderia ter sido melhor explorada. E seu fim foi trágico.

Já Love é uma caixa de surpresas. Ou para ser mais exata. Uma caixa de Pandora. É ela a diferença desse segundo ano. Ela é surpreendente e assustadora. Com certeza, a melhor surpresa dessa segunda temporada.

As tramas secundárias dessa temporada foram muito melhores que a da primeira. Tudo serviu para construir cada bom momento e desenvolver bem os personagens.

O episódio final foi sem sombra de dúvidas um dos melhores finais de séries desse ano. E pode ser que muitos não gostem. A princípio eu mesma não gostei. Mas após pensar e refletir vejo e entendo seu final. Daí a importância de mostrar o seu passado. Joe de certa forma foi punido. Ele está preso. Ele está dentro da sua própria armadilha.

Love não precisa dele. Não precisa ser cuidada e isso não funciona para ele. Mas ele está preso a ela.

O terceiro ano que está por vir me preocupa por não depender de um livro para se guiar e agora começa a andar sozinho. A liberdade para criar pode ser o começo do seu fim. You não pode se firmar sempre em uma nova obsessão. Afinal, agora já vimos isso duas vezes. Então o terceiro ano terá que se reinventar e trazer um elemento novo.

A segunda temporada de You é tão boa quanto a primeira e traz melhorias que vem com sua nova casa. Fica claro que ela pode ter uma vida longa na plataforma se jogar as cartas certas. Joe é um vilão que prefiro acreditar que ninguém ama, mas que acaba ganhando nossa torcida para escapar e não fazer besteira. Joe é nossa obsessão e também acabamos sendo suas vítimas.

Review | Quem é você Alasca? (Uma das melhores minisséries do ano s/spoilers)

A moda de adaptações não passa. Felizmente algumas dessas adaptações acabam dando certo. Raramente elas superam a obra original. Looking for Alaska é um dessas raras exceções em que a adaptação é tão boa, senão melhor que o livro.

Lembro de ter lido o livro há dois anos atrás e ao ver a série o sentimento era de alívio, emoção e surpresa. A fidelidade a obra original é impecável. Os personagens são muito bem interpretados pelos atores, muito bem escolhidos por sinal.

Looking for Alaska é uma história de passagem. É uma história de primeiras vezes. De experiências. Mas acima de tudo, de amizade. Miles é um típico garoto tímido. Sem amigos, apaixonado por “últimas palavras” de pessoas mortas. Ele não é popular. Mas tudo muda quando ele entra para nova a escola onde conhece Chip, Takumi e Alaska.

A amizade que se desenvolve entre eles é reforçada pelo o que os torna forasteiros para os outros alunos mais populares e de famílias tradicionais, seja pela cor, sua origem ou por simplesmente não ser descolado o suficiente.

Miles e seus amigos criam um verdadeiro laço.

Mas, a série também aborda temas como bullying, trotes, preconceito e alcoolismo. Mostra de forma sutil como a maioria dos adolescentes não tem medo de morrer, por isso acabam não pensando nas consequências dos seus atos.

A falta de respeito pelas regras é uma maneira de se reafirmar e se posicionar diante de seus iguais. É viver intensamente e deixar sua marca.

O maior destaque está em Kristine Froseth (The Society) como Alaska Young. Ela dar vida a uma menina vítima de uma trauma de infância o que refletiu em seus relacionamentos e em sua saúde mental. É visível sua vulnerabilidade, sua tristeza. Mas infelizmente, ninguém vê. Ninguém a enxerga. Ninguém imagina o pior. Alaska é um reflexo da deficiência do sistema. Da sociedade. Que prefere acreditar no mais fácil do que simplesmente se recusar a aceitar um “estou bem” como resposta. Kristine é perfeita no papel. Passando todas as emoções necessários a personagem. É doloroso e real ver sua trajetória. E ainda mais, vê-la terminar tão cedo.

A forma como seus amigos e a escola lida com sua morte é crucial para a conclusão da série. É real e palpável.

Looking For Alaska com certeza é uma das melhores minisséries desse ano. Vale a pena conferir. É uma série para todos os públicos. Mostra como é possível fazer uma série sobre morte mas de maneira responsável e simples.

“To be Continued…” Young, Alaska.